26 de fevereiro de 2014 - 12h01
No contexto da crise económica e dos cortes financeiros que afetam todas as áreas geridas pelo Estado, inclusivamente a Saúde, um estudo internacional publicado na revista científica norte-americana Lancet mostra as consequências de tentar fazer mais, com menos recursos, na área da Saúde.
Por cada doente cirúrgico extraordinário pela qual uma enfermaria fica responsabilizada, o seu risco de morte acresce em até 7% nos 30 dias seguintes à sua entrada na unidade hospitalar, conclui o estudo.
María Teresa Moreno, do Instituto de Saúde Carlos III e uma das co-autoras do trabalho, acrescenta que “a percentagem de mortes durante o mês seguinte acresce até 1,5%”, cita o jornal El Mundo.
Em Espanha, dos 21 520 doentes operados no âmbito de intervenções “comuns”, de baixa gravidade, como apendicectomia ou substituição da anca ou rótula, 283 morreram, por causas variadas, ou seja, 1,3%, precisamente a média europeia.
Já em 2004, Linda H. Aiken, principal autora da investigação, desenvolveu o mesmo tipo de estudo na Pensilvância, Estados Unidos, e provou a mesma teoria, acrescentando a análise com base no nível de formação dos enfermeiros e o tipo de pacientes a cargo.
María Teresa Moreno estudou a realidade na Europa com base em dados de 422.730 pacientes, 26.500 enfermeiros e 300 hospitais de 16 países, entre os quais Espanha, Bélgica, Reino Unido, Noruega, Suíça e Suécia. Portugal não foi contemplado no estudo.
A percentagem de doentes cirúrgicos que morreram no hospital nos 30 dias seguintes à sua entrada oscilava, em termos médios, entre os 1% e 1,5%, variando de país para país. As variações notavam-se, sublinha a investigadora, mais por Estado, do que por unidades hospitalares. Em alguns países não chegava a 1%, enquanto que em outros atingia os 7%.
Portugal com enfermeiros a menos e médicos a mais
Segundo dados da Organização para a Cooperação e Desenvolvimento Económico (OCDE) de 2010, os últimos disponíveis, Portugal tem enfermeiros a menos: em 2010 existiam 3,8 médicos por 1000 habitantes, enquanto o rácio de enfermeiros era de 5,7/1000 habitantes. Considerando a média da OCDE de 3,1/1000 habitantes para médicos e de 8,7/1000 habitantes para enfermeiros, Portugal tem três enfermeiros a menos por cada mil habitantes.

O relatório da OCDE refere também que em 2010, o rácio de enfermeiro por médico em Portugal situou-se em 1,5, um número significativamente abaixo da média dos países da União Europeia – que foi de 2,5. Portugal não foi excepção, tendo-se passado de um ritmo de crescimento de 2,3% para 0,6%. 
Mas em plena crise, os portugueses continuam a ser dos que mais pagam despesas com saúde: 26% face aos 20,1% da média dos 34 países da OCDE, de acordo com um relatório sobre saúde de 2012, publicado pela organização em junho do mesmo ano.
Apesar dos cortes, Portugal continua a ser dos países que maior percentagem gasta do seu Produto Interno Bruto (PIB) em saúde, 10,7% em 2010, face a 9,5% da média da OCDE (no ano anterior tinha sido de 9,6%). Mas se os números forem vistos à lupa, ou seja, quanto é alocado neste setor por habitante, a média é bastante inferior à dos países da OCDE: os gastos em saúde per capita são de 2196 euros, enquanto na média dos países chega aos 2631 euros. 
Por Nuno de Noronha