"Assistiu-se a uma diminuição das carências no plano alimentar. Nas questões relativas à alimentação notou-se uma melhoria" em relação a 2012, disse à agência Lusa Tânia Correia, que elaborou o estudo para o Banco Alimentar e para a Entreajuda.

A terceira edição do estudo sobre os utentes das instituições de solidariedade social, que teve outras edições em 2010 e 2012, revela que, apesar da melhoria da situação alimentar, em 2014 uma em cada três pessoas que recorreram a estas instituições afirmou ter passado fome pelo menos uma vez por semana devido à falta de dinheiro.

Segundo o estudo, realizado em 216 instituições, cerca de 20 por cento dos 1.889 utentes de instituições sociais inquiridos afirmaram ter tido falta de alimentos ou sentido fome "alguns dias por semana" nos seis meses anteriores e 13 por cento referiu que tal aconteceu "pelo menos um dia por semana".

Tânia Correia lembrou que os utentes das instituições de solidariedade social recebem sobretudo apoio alimentar e que, apesar de se sentirem "realmente menos carências alimentares", a situação continua preocupante.

Por outro lado, a investigadora destaca o facto de os utentes reconhecerem que a sua situação melhorou, sem que se tenha alterado o nível dos rendimentos disponíveis.

"Melhorou a situação não tendo havido alterações significativas naquilo que é o rendimento mensal das famílias", disse.

Acrescentou, por outro lado, que não é possível perceber pelo estudo a que se deve esta perceção mais positiva dos utentes relativamente à sua vida.

"Uma hipótese que coloco é que do lado das instituições tenha havido um apoio maior a estas famílias e, por isso mesmo, as pessoas sintam menos necessidades a nível alimentar", acrescentou.

"Apesar de a situação económica não se ter alterado, [...] a perceção que as pessoas têm em relação ao rendimento disponível é mais positiva. As pessoas sentem-se menos pobres em 2014 face a 2012", sublinhou.

Segundo o estudo, em 52% dos agregados familiares, o rendimento mensal era igual ou inferior a 400 euros (25% das famílias ganhavam menos 250 euros, 28% entre 251 e 400 euros, 20% entre 401 e 500 euros e 28% mais de 500 euros), dados que se mantêm em relação a 2012.

A casa (70%) e a alimentação (64%) eram as duas maiores despesas, de acordo com os inquiridos, seguidas das despesas com a saúde (39%).

Em 2010, cerca de 72% dos inquiridos dizia sentir-se pobre, em 2012, 82% referiram-no e em 2014 o valor foi de 79%.

Quanto ao perfil dos utentes que procuraram as instituições de solidariedade social, Tânia Correia adiantou que são sobretudo pessoas desempregadas, muitas no desemprego há mais de dois anos.

Há agregados em que existe mais do que uma pessoa desempregadas e pessoas reformadas, como rendimentos baixos, e que recorrem às instituições sobretudo para ajuda alimentar.