Jorge Roque da Cunha falava aos jornalistas frente ao Hospital de São José, em Lisboa, onde hoje transmitiu os primeiros dados da greve dos médicos, que começou às 00:00.

“O presidente do Conselho Nacional da Saúde (CNS) é useiro e vezeiro em ter atitudes antimédicas”, afirmou, acrescentando: “Compreendo a atitude do bastonário” da Ordem dos Médicos.

O bastonário da Ordem dos Médicos vai pedir a demissão do presidente do CNS, na sequência de declarações sobre a quantidade e necessidade de médicos no Serviço Nacional de Saúde (SNS).

"As afirmações do presidente do Conselho Nacional de Saúde são ostensivamente graves. Não respeitam os médicos nem valorizam o trabalho notável que têm feito pelo SNS e pelo país", considera Miguel Guimarães numa mensagem escrita a um grupo alargado de médicos e a que a agência Lusa teve hoje acesso. "Tomei a decisão de pedir a demissão do Dr. Jorge Simões do cargo de presidente do Conselho Nacional de Saúde", acrescenta.

Bastonário indignado

Para o bastonário, o presidente daquele órgão independente e consultivo do Governo transmitiu aos portugueses a ideia de que a medicina pode ser exercida por qualquer pessoa.

"No limite, ao pretender que a medicina seja realizada por outros profissionais de saúde que não os médicos, o presidente do Conselho Nacional de Saúde está a promover a existência de doentes de primeira e segunda categoria, consoante a sorte e possibilidade de cada um", refere Miguel Guimarães.

Para Jorge Roque da Cunha, “as responsabilidades que [Jorge Simões] teve no passado, junto do Presidente da República, não nos surpreende. Foi sempre antimédico. Em vez de criar condições para a solução, faz parte do problema”.

O presidente do Conselho Nacional de Saúde considera por sua vez que o bastonário dos Médicos o deveria ter contactado antes de tornar públicas as críticas que lhe dirigiu, evitando fragilizar um órgão que está agora a dar os primeiros passos.

Numa carta datada de dia 2 de novembro que Jorge Simões escreveu ao bastonário Miguel Guimarães, e a que a agência Lusa teve acesso, o presidente do Conselho Nacional de Saúde reafirma que “algumas tarefas que hoje são exercidas por médicos podem ser desenvolvidas por outros profissionais de saúde".

Na carta, Jorge Simões tenta contextualizar as declarações feitas à rádio Antena 1 há mais de uma semana e que motivaram críticas por parte do bastonário da Ordem dos Médicos, incluindo um pedido de demissão do presidente do Conselho Nacional de Saúde (CNS), que ainda não era conhecido quando a missiva foi escrita.

Ainda assim, sobre as críticas feitas por Miguel Guimarães, Jorge Simões considera que teria sido “crucial um contacto pessoal no sentido de pedir explicações, ou no sentido de pedir a convocação de uma reunião do CNS para tratar deste assunto, ou qualquer outra iniciativa que não fragilizasse um órgão que está a dar agora os seus primeiros passos”.

Jorge Simões acrescenta que o bastonário “surpreende pela agressividade do seu tom” e que os comentários “atentam contra o bom relacionamento que deve existir no âmbito do CNS”.