3 de julho de 2013 - 07h14
O setor privado da saúde quer e diz-se preparado para gerir os hospitais do Serviço Nacional de Saúde (SNS), nomeadamente consultas, cirurgias e até 80 por cento das camas, segundo o presidente da Associação Portuguesa de Hospitalização Privada (APHP).
“De uma forma progressiva, o Estado deve ir alienando parte do seu setor produtivo para um setor privado concorrencial”, disse à agência Lusa Artur Osório, na sua primeira entrevista após tomar posse como presidente da APHP.
Segundo o administrador do Grupo Trofa Saúde, “o direito à saúde é um direito consagrado na Constituição e deve ser respeitado, mas a Constituição não diz que tem que ser o Estado a fazer a saúde e a ser o dono dos hospitais”.
Artur Osório disse que a APHP ainda não apresentou esta proposta ao ministro da Saúde, mas garantiu que, “quando o governo entender, qualquer dos quatro grandes grupos privados portugueses – Mello, Espírito Santo, HPP e Trofa – estão preparados para gerir os hospitais públicos, nomeadamente as Unidades de Locais Saúde (ULS)”.
Uma transferência que “não pode ser feita de um dia para o outro”, até porque “um hospital público ainda é a grande empresa empregadora em muitos sítios”.
O que o Estado pode fazer, adiantou, “é dar ao setor privado a gestão desses hospitais, que se tornará muito mais eficiente e muito mais capaz, a bem do doente e do próprio SNS”.
“Não quer dizer que se acabe com todo o setor público, mas grande parte do que hoje se faz pelo SNS é possível de ser feito pelo setor privado ou por uma gestão assegurada pelo setor privado”, disse.
O administrador hospitalar, médico de formação, defende que “o Estado deve criar uma máquina correta de auditorias constantes, de forma a ser um Estado de garantia de qualidade para o cidadão e para gerir a própria competição, que tem de haver, e dar liberdade de escolha aos seus doentes”.
Artur Osório considera que o Estado não está a gerir da melhor forma o dinheiro dos contribuintes quando paga entre 120 a 140 euros por uma consulta nos hospitais públicos, quando podia pagar entre 20 e 30 no setor privado.
O administrador garante que algumas situações que acontecem nos hospitais públicos, como ao nível dos laboratórios, não ocorrem no privado e que neste último é possível motivar mais os médicos, uma vez que eles ganham uma percentagem do que produzem.
Isto, assegura, sem descurar a qualidade dos serviços prestados, pois quando isso acontece “o doente muda” para outro estabelecimento.
“O doente é um decisor. Se vê que a consulta é telegráfica, se o médico não lhe liga, ele muda. A liberdade de escolha é que faz com que haja qualidade e eficiência”.
Artur Osório admite que o país deve estar grato ao seu setor de saúde público, o qual, “a partir de certa altura, parou, deixou de evoluir, passou a ser caro, a ter uma máquina burocrática cara e a ter listas de espera”.
Em resposta, “as pessoas, as empresas começaram a pagar do seu bolso para poder escolher o seu médico, o seu hospital e a ter uma relação personalizada com o sistema”.
“Todo o sistema coletivista que é o SNS acaba nisto: num sistema burocratizado, parasitado por muitos interesses”.
O presidente da APAH acredita que “é sempre possível” aos hospitais privados sobreviverem se perderem o acordo com a ADSE (Direcção Geral de Protecção Social aos Funcionários e Agentes da Administração Pública), embora reconheça o impacto que tal teria.
Artur Osório admite dificuldades em algumas instituições privadas, nomeadamente devido a dívidas do SNS, mas sublinha que este é um setor que cresce 20 por cento ao ano e fatura 1,5 mil milhões de euros.
SAPO Saúde com Lusa