Porque é que a resistência aos antibióticos está a matar mais gente do que nunca?

A resistência aos antimicrobianos é um problema emergente nos cuidados de saúde, com implicações diretas na morbilidade, mortalidade e elevados custos económicos. É uma grave ameaça à saúde pública mundial. Este problema resulta em grande parte do uso indiscriminado dos antibióticos, que tem levado à seleção de bactérias resistentes.

No fundo, os mecanismos e os genes que conferem resistência a alguns antibióticos já existem na natureza há milhares de anos, antes dos próprios antibióticos serem descobertos. Na maior parte dos casos essa informação genética não era útil às bactérias, não lhes conferia nenhuma vantagem em termos de sobrevivência, por isso a quantidade de microrganismos que tinha essas mutações era residual.

Num ambiente com grande pressão de antibióticos, sobretudo se não estiverem a ser bem utilizados, os elementos que vão sobreviver e reproduzir-se são essa minoria, que por seleção natural vai passar a maioria, pois os mais “fortes” sobreviveram e passaram os seus genes para os seus descendentes e os mais sensíveis desapareceram.

Acreditamos que deve ser fomentado o desenvolvimento de novos antibióticos, em particular contra as espécies de bactérias que têm revelado mais potencial de desenvolver resistências

É possível inverter esse problema?

Face à dimensão e à gravidade da resistência aos antibióticos nenhum país conseguirá resolver este problema sozinho. É fundamental que os países unam esforços e que os profissionais de saúde, tanto humana como animal, assim como doentes cooperem para combater as infeções causadas por bactérias resistentes, que ameaçam matar cerca de 10 milhões de pessoas em 2050.

Como é que estas infeções multirresistentes estão a ser tratadas?

Habitualmente há necessidade de tratar infeções com bactérias multi-resistentes em meio hospitalar, muitas vezes até em unidades de cuidados intensivos, devido à gravidade das situações. É também necessário utilizar antibióticos mais potentes, investigados especificamente para estas superbactérias, que claro, têm que ser utilizados com muito controlo, para que não venham a perder eficácia demasiado rapidamente. Naturalmente estes antibióticos são necessariamente muito caros, ao contrário dos antibióticos mais comuns, que são baratos (talvez até demasiado baratos, o que banaliza o seu valor terapêutico e não trava a utilização desregrada, seja em humanos, seja em animais).

Ceder à pressão dos doentes pode levar à formação de bactérias resistentes

Acreditamos que deve ser fomentado o desenvolvimento de novos antibióticos, em particular contra as espécies de bactérias que têm revelado mais potencial de desenvolver resistências. Aliás, essa é uma das mensagens que a OMS tem vindo repetidamente a transmitir. Mas para além de novos antibióticos mais potentes, há outros fatores a considerar que podem trazer grande valor acrescentado e contribuir para ajudar a controlar o problema, como por exemplo, permitir que os doentes com infeções graves sejam tratados em casa em vez de no hospital, onde o risco de serem infetados por outras superbactérias ou de infetarem outros doentes é muito superior. Esta possibilidade de tratar estes doentes fora do hospital também permitiria reduzir a estadia dos doentes no hospital e poupar custos de internamento.

Qual o papel do médico no combate à resistência aos antibióticos?

O médico desempenha um papel determinante na luta contra esta grave ameaça à saúde pública mundial e deve ter uma sensibilidade muito grande para este assunto. Por muito que custe, os médicos e outros profissionais de saúde não podem esquecer que eles próprios são um vetor de transmissão de microrganismos aos seus doentes, sobretudo através das mãos.

Ceder à pressão dos doentes para que lhes prescrevam antibióticos para situações que não necessitam de antibioterapia ou utilizar antibióticos de largo espectro em situações que não justificam podem também ser fatores que ajudam a selecionar bactérias resistentes. Para além disso também é necessário fazer um trabalho exaustivo de educação dos doentes e de promoção da literacia em saúde junto da população.

Qual o papel do doente no combate à resistência aos antibióticos?

Tal como o médico, o doente também tem um papel preponderante no combate à resistência aos antibióticos. Este papel passa por usar antibióticos apenas quando prescritos por um médico, fazer o tratamento até ao fim e não reutilizar os restos de antibióticos de um episódio anterior, ou partilhar antibióticos com outras pessoas.

Acha que se prescrevem demasiados antibióticos em Portugal?

De acordo com o Relatório da Primavera 2017 do Observatório dos Sistemas de Saúde, o consumo de antibióticos decresceu entre 2004 e 2014, mas continua a ser elevado. Os profissionais de saúde devem ter uma sensibilidade muito grande para este assunto e é necessário fazer um trabalho exaustivo de literacia em saúde junto da população. A população deve ser alertada para os perigos do consumo de antibióticos, devendo ser fomentada uma relação de confiança e de cooperação ente médico e doente.

O que fazer aos restos do antibiótico? Ou a toma correta de um antibiótico nunca deve ter sobras?

É difícil ter embalagens que tenham exatamente o número indicado de cápsulas ou comprimidos necessário para cada caso, até porque para o mesmo antibiótico poderão ser necessários esquemas terapêuticos diferente em função do doente ou da doença. A regra geral é tomar até ao fim (assim não há sobras), mas isso nem sempre é possível. As sobras de antibiótico deverão ser entregues na farmácia mais próxima.

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