Em causa está o comunicado de segunda-feira à noite em que o Ministério da Saúde anuncia a anulação dos acordos de cooperação entre a Administração Regional de Saúde do Norte e as Misericórdias de S. João da Madeira e Santo Tirso, devido às dúvidas que o modelo económico-financeiro na base desses documentos suscita "sobre a efetiva defesa do interesse público".

Ricardo Oliveira Figueiredo, anterior presidente da Câmara e atual candidato eleitoral pelo PSD/CDS, é o único que lamenta a decisão, por considerar que a "precipitada anulação" da transferência "nem salvaguarda o interesse dos trabalhadores, nem garante a defesa do interesse público na prestação de serviços de Saúde na cidade e na região".

"Receamos que este passo atrás relativamente ao acordo possa conduzir ao encerramento definitivo do hospital, como parece apontar o caminho que tem sido prosseguido pela gestão do Estado", explica. "Num Estado de direito democrático também o Estado está obrigado a cumprir os contratos que livremente assinou e os sanjoanenses nunca aceitarão menos do que aquilo que está escrito no acordo com a Misericórdia, que é o que continuaremos a defender", anuncia.

O comunicado emitido pelo Ministério refere que está "salvaguardado o normal funcionamento" da unidade, mas o candidato pelo movimento independente "SJM Sempre", Jorge Lima, declara que essa é "uma grosseira mentira, dada a desertificação sucessiva de serviços, pessoal qualificado e equipamentos especializados de que o hospital tem sido alvo".

Para esse cabeça de lista, isso "vem conduzindo à redução a zero, neste momento, da prestação de cuidados de saúde à população de S. João da Madeira e concelhos vizinhos" e "basta de jogos ao sabor das circunstâncias políticas e dos calendários eleitorais".

Já o candidato da CDU, Jorge Cortez, considera a anulação "um bom sinal, até porque o Governo tem de fazer aquilo que é a vontade da Assembleia Municipal e defender o Serviço Nacional de Saúde". Esse responsável também nota, contudo, que o Ministério "tem que repor agora aquilo que vem sendo retirado ao hospital desde 2007, nomeadamente ao nível da Urgência, da administração e de valências que a unidade foi perdendo, como a de Ortopedia, Urologia, Oftalmologia e Cirurgia Geral".

Eva Braga, cabeça de lista pelo BE, aprova igualmente a decisão do Governo: "Dá razão àquilo que o Bloco vinha dizendo - que a transferência do hospital para a Misericórdia em nada beneficiava o interesse público; pelo contrário, prejudicaria a população". A candidata defende que só o anterior presidente da Câmara "é que insistia nesse erro, apenas pensando nos interesses privados", e realça que "agora é preciso garantir que se recuperam as valências e os serviços que o hospital foi perdendo ao longo dos últimos anos".

O socialista Luís Miguel Ferreira, por sua vez, realça que a posição do Ministério corresponde à vontade dos "mais de 9.200 sanjoanenses que tinham assinado um documento exigindo que o hospital continuasse sob gestão do Estado". O candidato lamenta que o PSD local tenha negociado com o anterior Governo "contra a vontade da população" e "abrindo caminho à privatização", mas alerta que o recuo no acordo "é apenas um primeiro passo" e propõe-se analisar com o ministro da Saúde a atual situação do hospital, "exigindo que sejam repostos serviços" como as urgências e outras valências complementares às unidades da região.

Quanto ao PNR, fonte oficial da candidatura declara: "Não nos incomoda que o setor privado também tenha interesses e atue nesta área, mas, neste particular, defendemos a continuação do hospital nas mãos do Estado, a reativação das urgências básicas e o constante alargamento das suas competências - para que tenhamos serviços de proximidade, capazes de dar resposta a grande parte das doenças e deixando para os hospitais centrais os casos mais graves".