Através deste protocolo, o serviço de gastrenterologia do "São João" vai acompanhar os reclusos daquele estabelecimento prisional situado em Custóias, concelho de Matosinhos, distrito do Porto, “identificados como infetados pelo vírus da hepatite C e que necessitam de tratamento especializado”.

Em declarações à Lusa, o diretor do serviço de gastrenterologia do Centro Hospitalar, Guilherme Macedo, afirmou ser “expectável existir mais de uma centena de candidatos a tratamento” naquele estabelecimento prisional.

O protocolo, que entrará de imediato em vigor, prevê a realização de um levantamento e identificação dos infetados, bem como o tratamento de todos aqueles reclusos com uma “carga vírica ativa”. “Este é um projeto-piloto”, disse, acrescentando desejar ver esta iniciativa alargada “a todos os estabelecimentos prisionais”.

Para Guilherme Macedo, “a importância social disto é enorme”, porque torna possível a cura da hepatite C numa franja de população que é apontada “como um grupo reservatório de potencial perpetuação da infeção na comunidade”. Permitirá “perceber que os hospitais podem ter uma interação muito direta com as prisões”, disse.

No âmbito deste projeto-piloto, o serviço de gastrenterologia do S. João deslocará os médicos de especialidade de doença do fígado àquela prisão, onde farão as consultas de especialidade, promoverão os procedimentos de diagnósticos adequados e facultarão a medicação que permite a cura da hepatite C. “Vamos nós ter com eles e isso agiliza tudo”, sublinhou Guilherme Macedo, considerando que tal só é possível “pela boa vontade dos médicos” e pelo facto da “medicação utilizada ser de tal maneira eficaz e segura que permite um número de consultas muito mais reduzido”.

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Lembrando que a Organização Mundial de Saúde (OMS) considera a eliminação da hepatite C uma prioridade de saúde pública à escala global, o responsável considerou que “a única maneira de combater a doença é atacando o problema todo, e não parcelarmente”, sendo que este projeto-piloto, “numa articulação [entre os serviços prisionais e o S. João] muito bem desenhada, terá um impacto grande no número total de reclusos infetados”. “Há um entusiasmo muito grande da comunidade médica [neste projeto]", disse, "este é um problema que tinham por resolver”.

A coordenação clínica do protocolo, que será assinado pelas 11:00 de segunda-feira, no átrio do piso 2 dos Hospital de São João, vai ser assegurada por Guilherme Macedo e pelo médico coordenador do Estabelecimento Prisional do Porto, Rui Morgado.