As crianças deviam fazer um primeiro rastreio visual com um ano de idade e pelo menos aos três todas já deviam ter sido observadas, defende a Sociedade Portuguesa de Oftalmologia (SPO).

“O ideal seria todas as crianças serem rastreadas antes do um ano de idade, aos três anos e aos cinco anos. Mas não existe nenhum regime obrigatório e depende muito da sensibilidade dos pais e do médico ou pediatra que segue a criança”, afirma Rita Dinis da Gama, oftalmologista da SPO, que estima que 10% precisem de usar óculos.

Quanto mais tempo o problema persistir sem ser identificado, pior será o prognóstico: “o mesmo problema detetado aos três ou aos sete anos é de muito mais fácil recuperação aos três”.

Hoje em dia as famílias já estão alertadas para a necessidade de um rastreio visual antes da entrada no 1.º ciclo e, por isso mesmo, Rita Gama reconhece que “existem cada vez mais crianças a usar óculos”.

Além de rastreios mais precoces, também o aumento de bebés prematuros contribui para o maior recurso a óculos, porque a prematuridade interrompe o desenvolvimento visual na fase intra-uterina.

“Mas o ideal seria que todas as crianças conseguissem ir logo aos três anos a um oftalmologista ou ortoptista”, insiste a médica, avisando os pais que não devem delegar a saúde visual dos filhos em optometristas ou óticas.

Mesmo que os pais estranhem o êxito de um exame oftalmológico a crianças muito pequenas, Rita Gama explica que há métodos que se adaptam à idade:

“A aplicação de gotas nos olhos para dilatar a pupila permite ver se o olho é saudável por dentro, bem como se tem necessidade de usar óculos. Independentemente da idade existe sempre maneira de perceber se a criança vê bem ou não”.

A especialista admite que é difícil para os educadores aperceberem-se de alguns problemas de visão, que podem dar poucos sinais exteriores.

Total desinteresse pela televisão ou demasiada falta de atenção e adesão às atividades podem ser sinal problema ocular.

Por outro lado, há mitos associados a deficiência visual e que não fazem sentido, como a aproximação ao ecrã da televisão ou aos livros.

“As crianças gostam de se aproximar da tv sem que tenha qualquer significado. E as crianças gostam de exercitar a capacidade de focar uma imagem a uma distância muito curta, ao dobrarem-se em cima de um livro ou caderno”, exemplifica.

Também os jogos de computador não fazem mal aos olhos: uma criança com boa visão pode passar muitas horas a jogar sem que isso traga algum prejuízo visual, diz.

O problema visual mais frequente nos mais novos é a hipermetropia (em que se vê sempre em esforço), que atinge cerca de 70% dos meninos que usam óculos. Seguem-se a miopia e o astigmatismo.

O uso de óculos quando prescritos pelo médico é fundamental, para que o cérebro receba as imagens nas melhores condições.

“O desenvolvimento visual não termina quando a criança nasce, termina aos 10 anos. Quanto mais cedo forem detetadas as alterações mais fácil é recuperar. Para que o sistema visual se desenvolva, a imagem que chega ao olho tem de ser perfeita, para que o cérebro a consiga processar”, adverte Rita Gama.

Diferentes dos problemas visuais (em que o uso de óculos permite à criança passar a ver bem), são as doenças oculares, como o estrabismo, doenças de retina e das vias lacrimais

“Quando existe uma doença ocular, mesmo com óculos a criança não consegue ver bem”, explica a especialista da SPO.

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25 de maio de 2011

Fonte: Lusa/SAPO