Baseada em inquéritos a 926 profissionais com domicílio profissional hospitalar na área da Secção Regional do Centro da Ordem do Enfermeiros, a investigação de António Manuel Fernandes revela que só 46% deles “nunca sacrifica a segurança do doente quando há sobrecarga de trabalho”

“A cultura de segurança do doente apresenta-se como um fator crítico da qualidade dos cuidados de saúde hospitalares e a necessitar de melhoria”, considera.

De acordo com os dados recolhidos pelo investigador, “a maioria das dimensões da cultura de segurança do doente, entendida como um modelo de comportamentos tendente a minimizar os danos nos pacientes que podem resultar da prestação de cuidados, apresenta debilidades”.

Por exemplo, “as dotações de enfermeiros identificadas são medianamente comprometidas com a sua missão de segurança profissional e dos doentes, correndo um sério risco de não a garantirem, uma vez que revelam debilidades nos seus aspetos de cariz qualitativo e são deficitárias no provimento de horas de cuidados de enfermagem necessárias, registando-se um défice médio de 23%”.

Por outro lado, segundo António Manuel Fernandes, “o compromisso do hospital com os enfermeiros e a enfermagem, a existir, é pouco sentido por estes profissionais”, que “tão pouco sentem que o seu esforço e perícia sejam adequadamente reconhecidos e recompensados”.

Uma exceção positiva nos fatores que levam à cultura de segurança do doente é a dimensão “cooperação/trabalho em equipa dentro das unidades/serviços”, que é encarada pelos enfermeiros como um aspeto forte.

“A cultura de segurança do doente identificada neste estudo é caracterizada pelo paradigma da culpabilização e punição” e também “pelo paradigma da ocultação do erro e do evento adverso”, refere o investigador.

Ou seja, os profissionais estão convictos de que, “quando notificados, são eles o centro da atenção e não o incidente/evento e preocupados que este seja registado no processo pessoal, podendo ser usado contra si”.

A investigação confirma que contextos clínicos “com dotações em enfermagem qualitativamente mais seguras - particularmente onde se promove equilíbrio de competências e supervisão de cuidados e, sobretudo, se fomenta um bom ambiente relacional entre profissionais clínicos, com estimulação da autonomia profissional - contribuem para a existência de níveis inferiores de riscos clínicos”.

O estudo de António Manuel Fernandes intitula-se “Dotação segura em enfermagem e a cultura de segurança: subsídios para a segurança do doente” e foi realizado entre setembro de 2011 e novembro de 2013.