“O que nos chamou a atenção é haver muitos e muito dentro da costa, inclusive a baixíssimas profundidades. Eu cheguei a ser chamado para ver colónias dessas por pessoas que estavam à pesca no porto de Pipas, em Angra do Heroísmo [ilha Terceira]”, afirmou o biólogo João Pedro Barreiros.

Segundo o biólogo, os ‘pyrosomas’ estão normalmente “a grandes profundidades” e são avistados “esporadicamente ao longo de anos”, sendo que este ano têm aparecido em abundância e junto à costa açoriana.

“São estruturas que parecem claramente um tubo e podem chegar a oito metros de comprimento. Esse tubo é oco de um dos lados, tem uma abertura, que não é uma boca, porque aquilo é uma colónia de pólipos e, para terem uma ideia da dimensão, uma pessoa cabe lá dentro em algumas dessas colónias maiores”, explicou o biólogo, referindo que “é semitransparente, mas tem alguma coloração que resulta da cor do aparelho digestivo dos pólipos que formam essa colónia”.

Não são perigosos, apesar de assustadores

João Pedro Barreiros assegurou que, apesar de o tamanho ser “assustador”, esse “tubo gelatinoso composto por pequenos organismos marinhos” é completamente “inofensivo”.

“Não são minimamente perigosos, não há qualquer risco. É evidente que alguém que está a mergulhar ou a nadar e dá de caras com uma estrutura, com um tubo transparente de oito metros de comprimento, é capaz de se assustar, mas não há aqui venenos, nem toxinas, nem nada comparável com as águas vivas [alforrecas] ou com as caravelas, nada disso”, frisou.

Este aparecimento de ‘pyrosomas’ nos Açores está a ser alvo de um estudo internacional que, nesta fase inicial, vai tentar fazer “a identificação genética” dos exemplares que têm surgido um pouco por todo o arquipélago dos Açores.

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“Temos uma série de amostras que, quando chegar ao inverno, serão enviadas para um laboratório nos Estados Unidos para tentarmos perceber se se trata de mais do que uma espécie. Estamos também a mapear com maior precisão possível os avistamentos, as observações dessas colónias. De facto, estamos a compilar uma base de dados muito interessante que mostra uma distribuição imensa desses organismos à volta das ilhas todas”, declarou.

Além de João Pedro Barreiros, o estudo está a ser coordenado também por uma bióloga do Instituto Oceanográfico de Woods Hole, nos Estados Unidos da América.

Este estudo internacional, que “tem progredido através de um número de observações nunca antes registado”, poderá ajudar num maior conhecimento sobre ‘pyrosomas’, que servem de alimento a tartarugas e a outros animais marinhos.

“Se há coisa que nós sabemos em relação aos ‘pyrosomas’ é que não sabemos nada. Não há ninguém no mundo que tenha tido até hoje oportunidade de desenvolver um estudo aprofundado sobre estas colónias porque são de facto muito, muito desconhecidas”, sublinhou.

O biólogo tem contado com a colaboração de mergulhadores, caçadores submarinos e turistas para recolher amostras e pede a colaboração de outras pessoas no sentido de serem feitas idênticas recolhas desta estrutura gelatinosa que podem ser feitas à mão.

Depois, deve ser colocada num frasco com água do mar e ser entregue na Universidade dos Açores ou junto das autoridades marítimas.

Com Lusa