“A nossa proposta diz que podemos conseguir ganhos em saúde muito significativos na medida em que os estudos internacionais apontam para um custo efetivo das intervenções em que por cada 75 cêntimos investidos existe um retorno de 3,74 euros”, explicou hoje o bastonário da Ordem dos Psicólogos.

A contratação dos 447 especialistas implicaria um custo estimado de cerca de 24.756 milhões de euros e um retorno estimado de cerca de 123.450 milhões de euros, disse Telmo Mourinho Baptista, que falava à Lusa a propósito do 2.º Encontro dos Psicólogos do Serviço Nacional de Saúde, que se realiza sexta-feira no Porto.

“O que fizemos foi demonstrar que para uma cobertura melhorada do SNS é necessário tentarmos chegar aos mil psicólogos, nesta legislatura. Esta diferença significa que até ao final da legislatura teríamos de tentar conseguir ter mais 400 psicólogos no SNS e que isso, dado o investimento que significa, calculado ao longo dos vários anos, poderia permitir essa poupança significativa, que pode chegar aos 120 milhões de euros”, sustentou Telmo Mourinho Baptista.

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Para o bastonário, as intervenções psicológicas no SNS “são de importância vital, uma vez que permitem não só aliviar o sofrimento dos utentes”, mas também porque “contribuem para a promoção do bem-estar, mudança de comportamentos e prevenção e redução do número de consultas médicas, dias de internamento, consumo de medicamentos e absentismo laboral”.

Segundo Telmo Baptista, “a continuidade na aposta de um modelo em que o principal investimento é na resposta ao problema e que as soluções são, muitas vezes, apenas remediativas, é insustentável, sendo impossível responder e travar as crescentes necessidades dos cidadãos tanto ao nível da saúde física como psicológica no atual modelo”.

“A psicologia é precisamente uma solução, com a aposta na intervenção preventiva ou precoce, levando a uma mudança de comportamentos que evita os problemas de saúde, poupando tanto utentes como o próprio Estado, em termos de consultas, intervenções cirúrgicas e comparticipações de medicamentos”, considerou.

Por exemplo, “em Portugal, e só no que se refere a medicamentos com a diabetes, poderíamos obter uma poupança estimada anual de cerca de 63 milhões de euros, com intervenções psicológicas, através da adesão à terapêutica, reestruturação cognitiva e intervenção comportamental”, acrescentou.

Em seu entender, “o acesso aos cuidados de saúde psicológica continua muito comprometido pelo escasso número de psicólogos no SNS, em particular nos cuidados de saúde primários, onde a sua presença está amplamente justificada”.

Atualmente, “parte significativa destes profissionais passam grande parte do seu tempo a trabalhar no ‘fim da linha’, nomeadamente nos departamentos de psiquiatria e saúde mental dos hospitais. Este problema tende a agravar e cristalizar-se, o que diminui a eficiência ou a morosidade das intervenções”, referiu.

No encontro de sexta-feira será abordada a transversalidade do trabalho dos psicólogos e o seu contributo para a sustentabilidade do SNS, para o bem-estar físico, social e psicológico dos cidadãos e para o desenvolvimento económico da sociedade, nomeadamente a resposta que os psicólogos oferecem na emergência médica e na área das dependências e cuidados continuados/paliativos.