A atribuição dos prémios, que distinguem anualmente três mulheres cientistas, até aos 35 anos, que se tenham destacado em trabalhos de investigação, decorre hoje em Lisboa.

Elisabete Oliveira, uma das premiadas, está a desenvolver uma terapêutica com nanopartículas, que levam doses controladas de medicamento até às células cancerígenas, o que pode atenuar os efeitos negativos das substâncias utilizadas.

A cientista da Faculdade de Ciência e Tecnologia da Universidade Nova de Lisboa e da REQUIMTE (Rede de Química e Tecnologia) explicou à agência Lusa que "o objetivo é a síntese de nanopartículas minúsculas e, no seu interior, serão inseridos os fármacos, neste caso para tratamento do cancro".

As partículas de muito pequenas dimensões "têm a particularidade de serem emissivas e, ao introduzi-las dentro das células, podemos visualizá-las desde o início até ao final da sua degradação", porque são florescentes, especificou.

Este "veículo direcionado diretamente para as células cancerígenas, sem afetar as saudáveis", como descreve a cientista, poderá ser utilizado no tratamento de todos os tipos de cancro.

O estudo do coração de doentes que sofreram um Acidente Vascular Cerebral (AVC), sem determinação de causa, é o tema do trabalho de Ana Catarina Fonseca para detetar alterações que possam ajudar a diagnosticar e prevenir novos casos.

Em um terço dos AVC causas não são detetáveis

Esta investigadora do Centro Hospitalar Lisboa Norte, Hospital de Santa Maria, recorda que, em "cerca de um terço dos AVC, mesmo depois de se fazer uma investigação extensa para tentar descobrir uma causa, não se consegue detetar" o que levou ao acidente.

"Dizemos que são AVC's de causa indeterminada" já que os exames estão normais, os médicos não sabem bem como medicar o doente, e uma possibilidade "é que os exames que estamos a fazer não sejam suficientemente sensíveis para ver as alterações".

O trabalho propõe novos métodos de exames de diagnóstico, como uma ressonância cardíaca e biomarcadores no sangue, para "ver melhor a estrutura do coração" e chegar à causa do AVC.

Ana Faria, do ISPA - instituto universitário e do centro de investigação MARE, está a estudar de que forma as larvas, ou peixes bebés, do litoral português estão a ser afetados pelo aumento da acidez do mar, uma consequência da subida dos níveis de dióxido de carbono.

"Propus avaliar de que forma a exposição dos peixes adultos [de espécies do litoral português] a um ambiente acidificado trará vantagens para a sua descendência, porque o que tem sido feito até agora é colocar as larvas em ambiente acidificado e tem sido excluído o restante ciclo de vida, ou seja, os pais", relatou.

Nos últimos anos, a acidificação do oceano está a ocorrer mais rapidamente devido aos elevados níveis de emissões de dióxido de carbono para a atmosfera, que o mar não consegue assimilar, levando ao desequilíbrio do ecossistema.

Os peixes adultos "têm mecanismos muito eficazes na regulação destas alterações que ocorrem no meio, mas os estados larvares ainda têm esses mecanismos em desenvolvimento", ficando mais suscetíveis, salientou Ana Faria.

Para a cientista, é importante avaliar a hipótese de as espécies terem capacidade de adaptar-se ao longo do tempo, ou seja, de os pais passarem a informação aos filhos.