FOTO DE ARQUIVO/LUSA

O projeto “Prioridade à vida no cancro colorretal” quer melhorar o acompanhamento do doente, desde o diagnóstico até ao tratamento, e junta a unidade hospitalar e o Agrupamento de Centros de Saúde do Alentejo Central (ACES AC), no distrito de Évora.

Neste âmbito, a médica Fátima Breia, do ACES AC, informa que foi criada uma lista, com os sintomas e sinais do doente e a sua história pessoal e familiar, que os clínicos dos centros de saúde preenchem e enviam para o HESE, quando pedem a colonoscopia. Esta folha, uma espécie de “checklist”, permitiu ao Serviço de Gastroenterologia hospitalar passar a “priorizar os doentes mais urgentes para o exame”, indicou.

“Antes, os pedidos eram organizados por ordem de entrada”, mas, com a nova folha, “quando os pedidos chegam, os médicos do hospital já conseguem ver quais os exames que têm de ser realizados mais cedo”, o que torna “mais rápido diagnosticar o doente e intervir”, salientou.

Menos seis meses à espera

Os resultados dos primeiros nove meses do projeto, a divulgar em Lisboa, na quinta-feira, mostram já “diversos ganhos” em saúde, avançou hoje à Lusa Fátima Breia. O tempo médio de espera para os exames, revelou a clínica, “baixou de seis meses, e nestes seis meses tanto estavam doentes mais graves como menos graves, para 76 dias”, tendo “algumas colonoscopias até sido feitas em menos tempo, em 12 dias”.

Fátima Breia, que é também médica na Unidade de Saúde Familiar (USF) Foral, em Montemor-o-Novo, disse que, das 450 colonoscopias efetuadas pelo HESE por solicitação das unidades de cuidados de saúde primários, “106, ou seja, 25%, foram acompanhadas pela folha”.

Destas 106, continuou, “43 doentes foram considerados com necessidade de prioridade no exame” e “em 19% foram identificados tumores”, sendo que, “nas outras 63, só houve tumor em 5%” dos casos.

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Esta diferença, observou, “já mostra que o preenchimento da ‘checklist’ permite, com segurança, priorizar os doentes e pô-los a fazer o exame mais cedo”.

O diretor do Serviço de Cirurgia do HESE, Jorge Caravana, destacou à Lusa que, ao ser atribuído um grau de prioridade aos doentes, “além de se conseguir baixar para metade o tempo médio de espera” das colonoscopias, foi possível “fazer um grande número de diagnósticos positivos, de cancro ou de pré-cancro”.

“Conseguimos ser mais certeiros nos doentes que precisamos de ver com urgência e intervimos mais rapidamente. Sabemos, por exemplo, que todos os pólipos (lesões pré-malignas) vêm a ser cancro, mas, se os tirarmos precocemente, evitamos cirurgias de urgência e impedimos que aquele doente venha a ter cancro”, salientou.

Assim, “evita-se sofrimento para o doente e, do ponto de vista económico, também se economiza”, realçou o médico, defendendo ser necessária, agora, “uma adesão muito grande dos médicos de família”, porque esta “tem acontecido lentamente”, e o alargamento do preenchimento da folha “a outros agrupamentos de centros de Saúde”.

“Temos uma boa resposta, mas precisamos que todos os clínicos de família nos mandem a lista preenchida”, disse.

O projeto, acentuou, “é muito importante” no Alentejo, região portuguesa que, tal como em Trás-os-Montes, tem “uma prevalência mais elevada de cancro colorretal”, o que, provavelmente, “se deve ao tipo de alimentação”, com mais consumo de “carnes fumadas e vermelhas e poucos legumes”.

A divulgação dos resultados do projeto, até final de setembro, vai acontecer numa conferência promovida pela Novartis, que apoia a iniciativa, sobre boas práticas de governação clínica.