Luís Montanha, fotógrafo de Vila Real, e Pedro Cruz, designer de som de Aveiro, juntaram-se para desenvolver uma exposição de 30 fotografias e áudio que pretende refletir sobre esta demência.

“O que vê o doente de doente de Alzheimer” é precisamente o desafio a que os metores do “Antípodas” querem ajudar a responder.

A ideia passa por oferecer um retrato metafórico da doença e das suas consequências, a partir do ponto de vista do próprio doente.

“A fotografia vai ser uma espécie de consciência ou os olhos do próprio doente. Vai assumir mais diretamente o ponto de vista do doente”, afirmou hoje à agência Lusa Luís Montanha.

O fotógrafo explicou que o projeto é baseado numa experiência vivida com a sua avô, que sofreu de uma demência.

“Acompanhei-a durante meio ano, tempo que me permitiu conhecer de perto a doença e sentir que, através deste projeto, poderia ajudar as pessoas, todos os cuidadores ou familiares, a perceber a complexidade desta patologia”, salientou Luís Montanha.

O responsável quer que o “Antípodas” sirva de alerta. “Esta doença é muito complexa e não pode ser tratada com senso comum, não se trata com lógica, porque é uma doença muito dinâmica, tão depressa o doente passa de um estado de confusão, para um estado de lucidez aparente para um estado de ansiedade, da pessoa querer ir embora, quando está na própria casa”, frisou.

E o que vê o doente? “É muito, muito difícil. Estou a tentar perceber aos poucos. Estou a trabalhar com o espaço da casa da minha avô, porque foi lá que as coisas aconteceram e tentar, se fosse eu o doente, perceber aquele espaço”, respondeu Luís Montanha.

A exposição será instalada numa casa com dois andares, algum mobiliário e fraca iluminação. As fotografias serão acompanhadas de registos sonoros.

Por isso mesmo, o visitante percorrerá o roteiro “muito familiar e intimista” munido de um MP3 e auscultadores, passando “por alguns momentos de confusão e lucidez, numa intermitência com a própria doença”.

“O som será uma espécie de sedativo que pretende que o espetador experiencie o projeto com todos os sentidos possíveis”, acrescentou o designer Pedro Cruz.

Para Luís Montanha, “é importante que o espetador sinta que o lugar é ou foi habitado, que se sinta familiarizado como se fosse a própria casa”.

O resultado será uma “interpretação artística” dos dois promotores, mas o projeto conta também com a colaboração do Centro Apoio Alzheimer Viseu.

O “Antípodas” será exibido em julho, em Viseu, no âmbito do Festival Jardins Efémeros, que é coprodutor do projeto.

No entanto, neste momento, os promotores estão a desenvolver uma campanha de angariação de fundos para conseguirem os 1800 euros necessários para a impressão fotográfica e a aquisição de dispositivos sonoros.

Depois da estreia do projeto, no Jardins Efémeros de 2015, será lançado um livro e ainda um CD com a faixa sonora produzida para a exposição.