10 de setembro de 2014 - 09h01
Trinta e cinco anos após a criação do Serviço Nacional de Saúde (SNS), e apesar dos “progressos assinaláveis em todos os indicadores de saúde dos portugueses”, ainda persistem assimetrias territoriais que, em alguns casos, se agravaram, indica um estudo.
O estudo “Evolução dos indicadores de saúde ao longo dos 35 anos do SNS”, realizado pela geografa Paula Santana, da Universidade de Coimbra, vai ser apresentado quinta-feira no Hospital Beatriz Ângelo, em Loures, numa cerimónia para assinalar a efeméride.
De acordo com esta investigação sobre a saúde dos portugueses, “a transição epidemiológica não aconteceu da mesma forma em todo o país”, registando-se “alguns contrastes inter-regionais e intra-regionais, bem como as oposições norte-interior/norte-litoral, sul-interior/sul-litoral”.
“A análise regional e distrital da evolução, entre 1974 e 2012, das taxas de mortalidade infantil, neonatal, perinatal e específica de um a quatro anos demonstra ganhos em todo o território, embora a ritmos ainda diferentes, em função da evolução da demografia, das acessibilidades e das condições económicas e sociais dos distritos”, lê-se no estudo.
Em declarações à agência Lusa, Paula Santana disse que estas assimetrias persistem 35 anos depois da criação do SNS e, “em alguns casos, agravaram-se”.
“Apesar dos progressos assinaláveis em todos os indicadores de saúde dos portugueses, existirão sempre assimetrias em alguns indicadores, independentemente das medidas que possam ser tomadas”, refere.
Para Paula Santana, “tais assimetrias podem resultar, por exemplo, da composição etária das populações - populações mais envelhecidas apresentam piores de resultados em saúde do que populações mais jovens - ou de problemas de escala e acesso, já que pequenas povoações tendem a ser menos dotadas com equipamentos de saúde ou apoio social do que grandes aglomerações populacionais”.
“O que importa é que a variação dos indicadores seja cada vez mais explicada por este tipo de causas e menos por efetivos problemas de acesso a cuidados de saúde e existência de condições habitacionais degradadas”, prosseguiu.
A autora ressalva que “muito foi feito pelo poder local após o 25 de abril de 1974 e muitas das melhorias estão associadas à melhoria das condições de saneamento e fornecimento de água potável e eletricidade, por exemplo, e, ainda, aos cuidados de saúde de proximidade (cuidados de saúde primários”).
Questionada sobre o impacto no SNS dos constrangimentos associados ao ajustamento financeiro que Portugal sofre, Paula Santana considera que “ainda não se pode identificar, com exatidão, o impacte da crise financeira e dos ajustamentos que Portugal sofreu na saúde das populações”.
“O que se sabe é que esse impacto tem sentido diverso, com alguns indicadores podendo melhorar por causa da crise e outros podendo piorar”, indicou, exemplificando: “A redução de circulação rodoviária ou a redução do consumo de calorias (dentro de certos limites, claro) podem ter efeitos benéficos sobre a mortalidade rodoviária ou sobre as doenças cardiovasculares”.
“Já o desemprego está claramente associado a piores estados de saúde e é crível que o seu aumento determine a deterioração do estado de saúde dos cidadãos”, adiantou.
A propósito do aumento de emigrantes portugueses, a autora prevê que “o estado geral de saúde dos portugueses residentes piore, uma vez que aumenta a proporção de idosos na população total”, isto tendo em conta que “os efetivos populacionais que têm emigrado mais são os jovens”.
Por Lusa