12 de fevereiro de 2014 - 08h11

Os profissionais de saúde privados do sono, devido ao excesso de horas de trabalho, têm mais probabilidades de cometer erros na prática clínica, alertou hoje a associação de medicina do sono, defendendo a criação de estratégias de prevenção.

Por considerar que este assunto merece “uma atenção especial” por parte da sociedade, a Associação Portuguesa de Cronobiologia e Medicina do Sono (APCMS) elegeu este tema para assinalar o Dia Mundial do Sono, celebrado a 14 de março.

“O dia tem como propósito chamar a atenção da população em geral e dos profissionais de saúde, em particular, sobre os efeitos nocivos da privação do sono” e sobre a importância de ter um “sono adequado”, disse à agência Lusa o presidente da associação.

Apesar do conhecimento cada vez maior da importância fisiológica do sono e das consequências “potencialmente graves” da sua privação na saúde individual e na saúde pública, “os comportamentos adequados perante esta necessidade básica são negligenciados, inclusivamente por profissionais cujo erro pode interferir de forma dramática com a saúde das populações”, como é o caso dos condutores profissionais e dos profissionais de saúde, disse Miguel Meira Cruz.

“É comum os médicos e enfermeiros (…) fazerem dois ou três turnos seguidos. Isso é penalizador quer para a função, quer para comportamentos e aspetos cognitivos que são necessários para ter uma atividade adequada”, adiantou o investigador do Laboratório de Função Autonómica Cardiovascular da Faculdade de Medicina de Lisboa.

Os estudos que existem sobre este tema são relativamente antigos e a maioria com pouca amostra, “mas demonstram a importância que tem esta extensão de horários na fadiga, na sonolência, no risco para o profissional de saúde e no risco para a saúde pública”, frisou.

“Estes estudos demonstram também que o excesso de horas de trabalho, em todos os profissionais, leva a um aumento do número de erros de falta de atenção, défice de memória, alterações várias que podem, em última instância, causar alterações graves na saúde pública”, sustentou.

O investigador citou um estudo publicado em 2004 no New England
Journal of Medicine, que comparou um grupo de médicos internos com
horário estendido (24 horas ou mais) com outro grupo, cujo horário era
no máximo de 63 horas semanais.

“Os resultados revelaram que os
internos cometeram 35,9% mais erros graves durante o horário estendido
do que no horário com restrição”, explicou, adianto que os erros mais
comuns (20,8%) estavam relacionados com lapsos na medicação.

Por outro lado, os internos cometeram 5,6 vezes mais erros de diagnóstico durante o horário estendido.

“Apesar
deste estudo alertar para o facto de que todos os erros foram
intercetados a tempo ou que, a serem inevitáveis, não provocaram sérios
danos, a realidade prática no quotidiano pode ser, de facto, mais
preocupante”, advertiu Meira Cruz.

Além da dificuldade da
privação do sono, estes profissionais são “expostos a fatores que são,
frequentemente, difíceis de controlar, como por exemplo, uma complicação
durante um procedimento cirúrgico, e que exigem uma raciocínio claro e
célere”, frisou.

Neste contexto, defendeu, existe uma
responsabilidade, por parte das organizações prestadoras de cuidados de
saúde, em garantir estratégias que permitam “limitar o potencial para o
erro” e “desenvolver medidas que permitam intercetar o erro”.

“Existem
medidas que são simples e extraordinariamente efetivas e eficazes” na
prevenção destes problemas, como ajustar o horário ao relógio biológico,
trabalhar em sítios com claridade e fazer uma sesta.

SAPO Saúde com Lusa