A autoridade australiana do medicamento aprovou um novo preservativo, revestido com uma substância capaz de anular quase totalmente o Vírus da Imunodeficiência Humana (VIH ). Em causa está uma parceria entre a segunda maior fabricante mundial de preservativos (Ansell) e a empresa de biotecnologia australiana Starpharma, que desenvolveu um composto antiviral (VivaGel) que testes laboratoriais revelaram ser capaz de inativar 99,9 por cento das partículas de VIH, herpes e outros vírus transmitidos por via sexual.

A chegada dos produtos ao mercado, da responsabilidade da companhia que tem a maior quota de venda de preservativos no continente australiano (70 por cento), é esperada apenas para os próximos meses, não avançando em grande escala antes de 2015. Lubrificados com VivaGel, integram um componente não-antibiótico e antimicrobiano que, além de prevenir a gravidez, também combate doenças sexualmente transmissíveis, um flagelo que continua a assolar o país.

De acordo com os números das entidades oficiais, o herpes genital, uma dessas patologias, afeta um em cada oito australianos, com as autoridades a lamentar que muitos dos portadores do vírus que o gera nem sequer têm noção de que o são, não fazendo nada para evitar a transmissão e o contágio. Em relação ao HIV, os dados também não são animadores. No prazo de um ano, o número de novas infeções registou um aumento de 10 por cento, como revelam indicadores do final de 2012. Foi a maior subida registada no país nas últimas duas décadas.

Alguns especialistas receberam, contudo, a notícia do lançamento do novo preservativo com um entusiasmo moderado. Depois de analisar o VivaGel, que pretendia usar como creme intravaginal para mulheres que se quisessem defender de doenças sexualmente transmissíveis sem recorrer ao uso de preservativo, Anna-Barbara Moscicki, professora de pediatria na Universidade da Califórnia, nos EUA, especialista no vírus do papiloma humano (HPV), constatou, num estudo, que a sua fórmula podia provocar irritação e infeções vaginais. «Em teoria, é algo muito promissor», ironiza.

«Uma vez que os preservativos têm sido considerados um método correto e consistente de proteção contra as doenças sexualmente transmissíveis, ao longo das últimas décadas, prevenindo problemas como o HPV, herpes, HIV, clamídia e gonorreia, entre outras, não me é imediatamente percetível a vantagem de juntar um gel com um composto antiviral ao lubrificante de um preservativo», afirmou já, publicamente, Jeffrey Klausner, professor de medicina e saúde pública da Universidade da Califórnia.