“É dos maiores prémios europeus na área da saúde e, para além disso, é um prémio que atingiu um prestígio grande, não só em Portugal como em diversos países europeus. A prova disso é que temos sempre investigadores estrangeiros de referência, das mais diversas proveniências, a concorrer e, nalguns casos, a ganhar”, disse à Lusa o presidente da Fundação Bial, Luís Portela.

Luís Portela congratulou-se por este ano não ser um estrangeiro a ganhar o Grande Prémio, como aconteceu na maioria das vezes nos últimos anos, o que revela que Portugal já tem “um nível científico, na área da saúde, que compara muito bem com o que se faz na Europa e no mundo”.

“Em Portugal, na área da saúde temos mais de três mil doutorados, esta é provavelmente a área que tem maior número de doutorados. Poder-se-á, então, questionar: E essas pessoas produzem? Produzem. Nestes últimos anos, 29 a 30% da produção científica nacional registou-se na área da saúde. Eu acho que são números absolutamente impressionantes”, afirmou.

Doença que causa cegueira

O Grande Prémio Bial de Medicina (200 mil euros) distinguiu a investigação “Da descoberta do gene à terapia genética em 20 anos: o caso da coroideremia uma degeneração hereditária da retina”, que é o resultado da investigação a uma doença genética rara, que afeta a retina e leva à cegueira de indivíduos do sexo masculino, sendo responsável por cerca de 4% dos casos de cegueira no mundo.

Este trabalho foi desenvolvido pela equipa liderada por Miguel Seabra, que sde demitiu na terça-feira de presidente da Fundação para a Ciência e Tecnologia.

Os efeitos do sal nas doenças cardiovasculares e impacto das políticas de saúde em 10 anos é o tema do Prémio BIAL de Medicina Clínica (100 mil euros), desenvolvido pela equipa liderada por Jorge Polónia, da Faculdade de Medicina do Porto.

Serão ainda entregues duas menções honrosas, no valor de 10 mil euros cada.

“Este ano temos um prémio na área da genética que pode marcar uma certa diferença para o futuro, assim como aconteceu com outros trabalhos que têm sido premiados nos últimos anos. Se for ver os trabalhos premiados ao longo do tempo vai verificar que, de facto, foram distinguidas áreas de ponta que estavam a ser investigadas nessa altura”, disse.

Em declarações à Lusa, Luís Portela acrescentou: “Quando vejo uma equipa liderada por um português obter o Grande Prémio eu fico muito satisfeito porque está a acontecer aquilo que sempre foi o desejo da Fundação Bial ao criar este tipo de estímulo, que era incentivar a ciência portuguesa, na área da saúde, a ombrear com o que de melhor se faz a nível internacional. Parece-me que isto está acontecer”.

“Globalmente, acho que a ciência que se faz em saúde em Portugal é de grande qualidade, mas também acho que os cuidados que se prestam na saúde em Portugal também comparam muito bem com o que se passa na Europa e no mundo. Nós temos indicadores muito bons. Há momentos onde há menor investimento, aqui e ali, mas há que superar isso, a verdade é que vivemos uma crise nacional e internacional muito grande e quem governa tem dificuldade em gerir as coisas da forma mais apropriada”, considerou.

Luís Portela disse ainda que neste momento o que se deseja é que “o país se foque na criação de riqueza, para ser distribuída nas áreas mais importantes, nomeadamente, na ciência e na saúde”.

Instituído em 1984 para incentivar a investigação médica e promover a sua divulgação, o Prémio BIAL já analisou 626 obras candidatas e mobilizou 1.474 investigadores, médicos e cientistas, premiando 245 autores (95 obras galardoadas).

Em 30 anos foram editadas e distribuídas gratuitamente pela classe médica e científica mais de 35 obras premiadas num total de mais de 300 mil exemplares.