Este resultado acaba de ser publicado na "Chemical Research in Toxicology", a revista científica da Academia Americana de Química, e é da autoria da mesma equipa de investigadores portugueses que desenvolveu o único método existente para detetar o “krokodil” no sangue e na urina.

O Krokodil é uma droga 10 vezes mais potente que a heroína e que está a amputar e matar milhares de pessoas.

A equipa que fez a descoberta é liderada por Ricardo Dinis-Oliveira, professor e investigador de ciências biomédicas na CESPU, especializado em ciências forenses.

Krokodil, a droga 10 vezes mais potente que a heroína que provoca amputações
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Droga pode provocar amputação de membros

“Ao estudarmos a parte má de uma droga tão viciante como o ‘krokodil” – que é mais ácida, agressiva e corrosiva do que qualquer outra no mercado, podendo levar à amputação de membros –, interrogámo-nos sobre o que leva as pessoas que o injetam a tolerar a dor e, ao mesmo tempo, a ter prazer na administração”, afirma Ricardo Dinis-Oliveira.

“Foi assim que identificámos 95 moléculas que, pelo facto de serem semelhantes à morfina, poderão ser também excelentes ferramentas terapêuticas no tratamento e alívio da dor severa, sobretudo quando os tratamentos clássicos deixam de ter eficácia”, acrescenta o autor do estudo.

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Félix Carvalho e Carlos Afonso, professores da Faculdade de Farmácia do Porto, são outras duas assinaturas importantes no artigo agora editado por uma das mais importantes publicações mundiais dedicada ao estudo da toxicologia e da química medicinal. Este trabalho insere-se também na tese de doutoramento de Emanuele Alves, quadro da Polícia Federal do Rio de Janeiro.

Ainda antes do artigo ter sido publicado pela revista da Academia Americana de Química, a 30 de maio, a equipa submeteu à Fundação para a Ciência e Tecnologia (FCT) um projeto de investigação para estudar qual (ou quais) das moléculas analgésicas se mostrará mais promissora para o tratamento de vários casos de dor severa: queimados, enfarte agudo do miocárdio, politraumatizados, dor oncológica, cuidados paliativos e cuidados terminais.

O projeto apresentado à FCT tem o valor de 240 mil euros e prevê dois investigadores a tempo inteiro, durante três anos. O trabalho de investigação será feito no Instituto Universitário de Ciências da Saúde da CESPU, no Grande Porto, e na Faculdade de Farmácia da Universidade do Porto no âmbito de doutoramentos em Ciências Biomédicas e Forenses.

A candidatura sustenta que a dor há muito deixou de ser considerada um sintoma que se tem de suportar, havendo que encontrar terapêuticas adequadas para a reduzir, aumentando desta forma a qualidade de vida dos doentes. Ainda esta semana, a FCT atribuiu uma bolsa de doutoramento a um estudante que se focará no estudo da farmacologia destes compostos.

“As moléculas estão todas caracterizadas em termos de estruturas químicas”, afirma Ricardo Dinis-Oliveira. “O que a investigação nos vai dizer é quais são aquelas que têm melhor potencial analgésico para o tratamento da dor severa”. Segundo o coordenador da investigação, o “krokodil” poderá “estar oferecer, de forma inesperada, um arsenal terapêutico para dor até à data verdadeiramente incomparável”.

Um caso em Portugal

O “krokodil” é uma droga altamente destrutiva que ganhou este nome por provocar uma aparência esverdeada e escamosa na pele dos consumidores. Muito difundida em países asiáticos e nos Estados Unidos, tem como principal componente psicoactivo um opioide semissintético, a desomorfina. Detetada há uma década na Rússia, em Portugal o Serviço de Intervenção nos Comportamentos Aditivos e nas Dependências (SICAD) só tem registo de um caso de consumo no país.