A chamada "fase silenciosa" começa cerca de 20 anos antes do diagnóstico atual e o objetivo do modelo é replicar essa fase mais precoce da doença para desenvolver novos fármacos, explicou à Lusa Sandro Alves.

"A grande vantagem é que o modelo vai permitir ser utilizado para testar e desenvolver medicamentos específicos na fase silenciosa da doença, fase na qual a patologia ainda é reversível porque se agirmos tarde demais já vai ser impossível tratar", explicou o investigador.

Sandro Alves, que participou no projeto liderado pelo francês Jérôme Braudeau, sublinhou que o novo modelo, batizado ‘AgenT', vai também possibilitar o desenvolvimento de "um diagnóstico sanguíneo que vai tentar permitir fazer o diagnóstico 10 a 15 anos antes do diagnóstico atual".

"A vantagem é que este modelo animal vai permitir desenvolver medicamentos, estratégias terapêuticas e um teste sanguíneo naquela fase da doença que ainda não se vê, mas já sabemos que os sintomas estão lá. A vantagem de detetar a doença mais cedo é como quando há um fogo pequeno inicial e antes que o fogo se propague, nós, os bombeiros tentamos agir de forma mais precoce para tentar combater o incêndio", afirmou.

O investigador destacou que, "atualmente, não há tratamento eficaz para a doença de Alzheimer" devido à impossibilidade de detetar a doença numa fase precoce, sabendo-se que as características biológicas de Alzheimer aparecem, pelo menos, 20 anos antes da manifestação de sintomas, como a perda de memória, por exemplo.

Por outro lado, é a primeira vez que um modelo animal consegue reunir "de forma natural" as duas características patológicas comparáveis à degenerescência do cérebro humano: a agregação de proteínas Tau nos neurónios e a aparição de placas de peptídeos A’42.

"Este modelo animal reúne as características mais importantes da doença de Alzheimer, a patologia amilóide e a patologia Tau. Nós induzimos a doença no rato adulto de forma a reproduzir a progressão da patologia humana. Aquilo que nós fizemos foi tentar dar tempo ao tempo para que a patologia fosse lentamente instalada de forma similar àquilo que é observado nos doentes", acrescentou.

A investigação, feita no Molecular Imaging Research Center (MIRCen), em Fontenay-aux-Roses, nos arredores de Paris, resultou de uma colaboração entre investigadores do gabinete de energia atómica e energias e do instituto francês de saúde e investigação médica, das universidades Paris-Sud e Paris-Descartes e do centro francês da investigação científica.

O modelo animal foi patenteado, os resultados foram publicados no jornal Cerebral Cortex a 18 de outubro e Jérôme Braudeau criou a start-up AgenT para "facilitar o acesso à utilização deste modelo animal na área da investigação biomédica e para desenvolver um teste de diagnóstico sanguíneo".

Sandro Alves é atualmente diretor do departamento de investigação pré-clínica de uma empresa na área da biotecnologia, em Paris, tendo participado no estudo na qualidade de pós-doutoramento do instituto francês de Saúde e investigação médica.

A doença de Alzheimer é a forma mais comum de demência, caracterizada por "deterioração global, progressiva e irreversível de diversas funções cognitivas", como a memória, a atenção, a concentração, a linguagem e o pensamento, refere, no seu portal na internet, a Alzheimer Portugal - Associação Portuguesa de Familiares e Amigos dos Doentes de Alzheimer.

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A patologia, associada ao envelhecimento e sem cura, deve o seu nome ao psiquiatra alemão Alois Alzheimer (1864-1915), que a descreveu pela primeira vez, afetando atualmente quase 45 milhões de pessoas em todo o mundo.