15 de julho de 2014 - 07h00

Portugal tem um plano de resposta às febres hemorrágicas, como as provocadas pelo Ébola, mas um doente que chegue às urgências apenas com febre tem 99 por cento de probabilidades de “passar por baixo do radar”, segundo um infeciologista.

Jaime Nina, infeciologista do Instituto de Higiene e Medicina Tropical (IHMT), disse à agência Lusa que “Portugal tem uma estrutura razoavelmente boa”, lembrando que existe um plano de resposta há mais de dez anos.

Esse plano define o que se faz nas urgências, quais os critérios para definir um caso suspeito, se esse caso tem suspeitas consistentes ou quais os serviços para isolamento.

No caso de Lisboa, adiantou, o hospital de referência é o Curry Cabral e o Egas Moniz, no caso do pior dos cenários esgotar a capacidade do primeiro.

O laboratório de referência é o Instituto Nacional de Saúde Dr. Ricardo Jorge (INSA), o qual fez até ao momento uma análise para despiste de caso suspeito, que se veio a revelar negativo, segundo disse à Lusa fonte do instituto.

Apesar de reconhecer a organização que Portugal dispõe, Jaime Nina faz uma ressalva: “No papel as coisas estão muito organizadas, mas se o doente aparecer nas urgências só com febre, tem 99 por cento de probabilidades de passar por baixo do radar”.

Isto não acontecerá, contudo, se o doente apresentar manifestações hemorrágicas ou se disser que veio de um país onde existem surtos do vírus.

Pelo meio, disse, “há sempre o risco do doente passar horas numa sala de espera do serviço de urgência”.

Jaime Nina sublinhou que este surto é “um bocadinho diferente” dos outros por vários motivos, como ter sido registado numa zona onde nunca houve casos, pela quantidade de infetados e pelo número de países afetados.

“O ébola tinha andado, até agora, na África central (Congo Kinshasa, Congo Brazzaville, Camarões, Gabão, Uganda, etc)”, disse.

De acordo com a Organização Mundial de Saúde (OMS), foram notificados 844 casos, dos quais 518 resultaram em morte (taxa de letalidade de 61 por cento).

Os casos foram detetados na Guiné-Conacri (407 casos, dos quais 307 acabaram em morte), na Libéria (131 casos, 84 mortos) e Serra Leoa (305 casos, com 127 mortos).

Para Jaime Nina, o que assusta as autoridades é não verem “uma luz ao fundo do túnel”, numa referência aos países afetados estarem na lista dos mais pobres do mundo e com conflitos armados em curso.

Sendo o sangue o meio mais comum de transmissão do vírus, já que o Ébola não tem tratamento específico, os doentes podem, contudo, ser tratados: “Se está desidratado, hidratar, se está com diarreia, tentar controlar a diarreia, se está com falta de ar, dar oxigénio, se está com hemorragias graves, dar transfusões”.

“O objetivo é manter o doente vivo. Se o doente não morrer, sobrevive [à doença]”.

Por Lusa