Ana Rito da Plataforma para a Obesidade diz ser tão importante que "a cozinha deixe de ser um espaço interdito aos mais novos e possa ser um local onde as crianças, enquanto brincam, aprendem a confeccionar refeições nas quais a utilização de frutas e legumes contribui para dar mais cor aos pratos e fomentar a adopção de hábitos alimentares saudáveis".

Brincar na cozinha para combater a obesidade
Vários chefes famosos estão a por crianças a confeccionar pratos de fruta e legumes para os fazer consumir comida mais saudável.

Nem sempre é fácil convencer os pais a deixarem os filhos aventurarem-se nos cozinhados, reconhece Conceição Rego, mãe da Patrícia, de sete anos, uma das participantes no workshop de cozinha para crianças realizado na última semana em Évora. "Não a costumo deixar colaborar pois há sempre algum receio em relação ao perigo que representa a utilização de facas e do fogão." A ideia deste workshops , que estão a decorrer por todo o País com o apoio de vários chefes de cozinha famosos, é exactamente atrair as crianças para a cozinha de forma a combater a obesidade infantil.

Neste dia, em Évora, o líder era o chefe António Nobre, que concorda que a presença de crianças na cozinha é "uma forma de as incentivar" a seguir uma alimentação saudável. "Não quer dizer que não comam hambúrgueres ou esparguetes à bolonhesa que há por aí com muita fartura. Mas devem descobrir os outros sabores e, para isso, o papel dos pais é fundamental", diz. Um dos truques, desvenda, consiste em adaptar as receitas a cada faixa etária. Por isso, Nobre colocou os mais novos a construir um "Carro do papá" (receita de Henrique Mouro com ananás, kiwi, iogurte e cereais).

Trata-se de descobrir a "arte" de brincar na cozinha que é um desafio que pode ajudar pais e filhos a combater os problemas associados à obesidade, diz Ana Rito, investigadora do Instituto Nacional da Saúde e vice-presidente do Conselho Científico da Plataforma Contra a Obesidade.

Colaboradora do livro "Hoje, o Chefe Sou Eu!", onde se baseiam este workshops e que reúne receitas pensadas para chefes de 'palmo e meio' por grandes mestres da cozinha, como Augusto Gemelli, Bertílio Gomes, Henrique Sá Pessoa, Mafalda Pinto Leite e Ricardo Costa, a investigadora defende que a cozinha enquanto espaço lúdico pode contribuir para afastar os mais novos do "ambiente obesogénico" em que vivem, "farto em alimentos de elevada densidade energética".

"Quanto mais interessadas as crianças estiverem em cozinhar melhor se habituam a uma cozinha mais saudável e a evitar o fast food", diz , por seu lado, o chefe Henrique Sá Pessoa, autor de programas televisivos sobre culinária e um dos cozinheiros que contribuiu com receitas para o livro, incluindo uma "Frittata de legumes com peito de frango", onde beringelas, brócolos e courgettes são servidos na "companhia" de ovos, frango e cogumelos.

"Quase todas as crianças gostam de ovos mexidos e nesta receita juntei uma quantidade de legumes que, no meio da mistura com os ovos e o frango, passam disfarçados. É um prato bastante colorido e é uma boa maneira de os habituar a comer legumes, um dos produtos que mais falta faz na alimentação das crianças."

No worlshop em Évora, a cor enchia os pratos dos miúdos. E, enquanto via a filha cortar um abacaxi para lhe dar a forma de um automóvel, sobre o qual espalhará algum mel, Conceição admite que, apesar dos receios, valerá a pena deixar a filha estar na cozinha, vez em quando : "De facto, as refeições podem tornar-se mais giras se forem participadas por toda a família."

"Talvez seja uma forma de acabar com a birra sempre que se fala na sopa", diz outra mãe, reconhecendo ser "uma tormenta" convencer o filho a consumir legumes ou fruta. "Antes de ir para a escola até comia salada mas depois começou a ouvir os colegas dizer que não gostam dos verdes e agora é difícil convencê-lo do contrário."