“As entidades com responsabilidades na matéria têm de fazer alguma”, apelou Conceição Calhau, numa entrevista à agência Lusa no âmbito do primeiro estudo científico sobre os níveis iodo nas crianças portuguesas que é hoje apresentado na Reitoria da Universidade do Porto.

Segundo Conceição Calhau, principal investigadora do estudo, Portugal é “um país que tem estado muito silencioso” sobre o problema do iodo na alimentação dos portugueses. Acrescentou que houve uma política e uma estratégia em 2013 da Direção-Geral da Saúde (DGS), mas que “não resolveu nada”.

"A Direção-Geral da Saúde em 2013 redigiu uma orientação para os médicos obstetras prescreverem um suplemento de iodo durante a gravidez, mas esta solução não resolve o problema, porque seria necessária uma gravidez planeada para começar a tomar o iodo logo no início da gravidez, explicou a especialista.

Quando as grávidas vão ao médico “já estão na oitava ou nova semana de gravidez, já havendo um comprometimento da parte da neurodesenvolvimento" e, por outro lado, só as grávidas que tenham "condições financeiras para comprarem o suplemento que não é comparticipado”, acrescentou.

“Esta orientação em 2013 vem dar o seu cheirinho, o seu arzinho de graça, mas não resolve nada. Além do mais, a DGS comprometeu-se a fazer uma monotorização do impacto desta orientação e pelo que sei não temos nada no terreno a funcionar para avaliar o impacto da orientação”.

Mais de metade das crianças com carência do micronutriente

Um estudo da Universidade do Porto que analisou 825 crianças portuguesas este ano letivo, e cujos resultados preliminares vão ser hoje apresentados, indica que mais de metade apresenta níveis desadequados de iodo, das quais 31% têm deficiência daquele micronutriente.

“Este trabalho (…) vem reforçar que nada se tem feito no nosso país de forma assertiva de forma a resolver um problema que a Organização Mundial de Saúde já vem a alertar desde o século passado”, conclui Conceição Calhau.