A relatora da Organização das Nações Unidas (ONU) sobre o direito da alimentação, Hilal Elver, disse, na quarta-feira, que a utilização de pesticidas, principalmente na agricultura, é responsável por 200.000 mortes por ano, por envenenamento.

Na apresentação do relatório anual perante o Conselho de Direitos Humanos, a especialista salientou que a maioria da população mundial está exposta aos pesticidas, quer através dos alimentos, da água ou do ar, quer do contacto direto com estes químicos e os seus resíduos.

A exposição aos pesticidas tem consequências irreversíveis, como cancro, doenças de Alzheimer e de Parkinson, transtornos hormonais, anomalias no crescimento ou esterilidade.

Leia este artigo médico: Glifosato, mais do que um herbicida, será um perigo para a saúde?

A Quercus saúda a divulgação deste relatório numa altura em que tenta sensibilizar as empresas e entidades, sobretudo as autarquias, para a redução de uso dos pesticidas e para o abandono de herbicidas, nomeadamente com glifosato.

Tóxicos para a saúde humana

A associação ambientalista vai realizar um encontro nacional sobre este tema e pretende apontar práticas alternativas ao uso de herbicidas químicos. "Ineficazes para garantir a segurança alimentar, tóxicos para a saúde humana e para o ambiente, os pesticidas fazem parte de um modelo de agricultura que está desatualizado", defendeu a associação Quercus, em comunicado.

Para os ambientalistas, a utilização de pesticidas "apenas beneficia as multinacionais e a indústria, enquanto os agricultores da União Europeia [UE] lutam para sobreviver".

Na vertente política, a Quercus refere a posição da Pesticide Action Network Europe, uma organização europeia da qual é membro, a defender que a indústria dos pesticidas "gasta milhões de euros a fazer 'lobby' para a manutenção dos seus produtos tóxicos no mercado".

"Muitas vezes, [a indústria de produção de pesticidas] apresenta informações falsas aos decisores políticos, assusta as pessoas com números alarmantes, como o de 85% de perdas se não usarem pesticidas e insiste em realçar o argumento do 'medo da fome'", acusam os ambientalistas.

A diferença de rendimento entre a agricultura convencional e a biológica, acrescentam, "é de 8% ou 9%, comparada com os mais de 30% do desperdício anual de alimentos" e o custo das "externalidades ultrapassa os benefícios que os pesticidas possam implicar".

Hilal Elver, que apresentou os resultados de um ano de investigações e visitas a várias regiões do mundo, precisou que 99% dos casos graves de contaminação acidental com pesticidas regista-se nos países em desenvolvimento.

As populações da UE e dos EUA não estão protegidas dos efeitos da utilização dos pesticidas, no entanto, a primeira aplica alguns princípios de precaução que não existem entre os norte-americanos.

"Embora nestes locais não haja grandes acidentes, o que está a passar-se é a modificação dos genes das plantas. Trata-se de um problema de ordem sistémica", explicou.

"Em todos os países há exposição crónica a pesticidas. Nenhum está imune", assegurou Hilal Elver.