31 de outubro de 2013 - 14h09
Não comer carne, peixe, ovos ou leite, nem usar lã ou couro é uma opção de vida que já conquistou pelo menos 5 mil portugueses e cuja expansão levou ao nascimento de alguns negócios.
Uma comunidade em crescimento, que, em véspera do Dia Mundial do Veganismo - opção de vida que implica não comer nem usar qualquer produto feito com base em animais –, apela a uma maior projeção da sua filosofia de vida.
Orlando Figueiredo, presidente da Associação Vegetariana Portuguesa (que representa também os veganos), garantiu hoje à agência Lusa que não pretende evangelizar ninguém, mas referiu ser necessário dar “maior visibilidade” a esta opção de vida, nem que seja para “apresentar a escolha”.
“Considero que [o dia mundial] é importante porque raramente ouvi falar [do veganismo] nos meios de comunicação”, afirmou, reconhecendo que “há muito trabalho a fazer na sua divulgação”.
Vegano já há alguns anos, Orlando Figueiredo explicou que a maioria das pessoas opta por esta forma de consumo “por compreenderem que não é ético o uso que se faz dos animais, nomeadamente na produção industrial de carne e na produção industrial de laticínios e ovos”.
Embora não existam estatísticas sobre veganos em Portugal, o presidente da Associação Vegetariana Portuguesa contabiliza pelo menos 5 mil, tendo em conta os cerca de 30 mil vegetarianos registados num estudo recente.
Um número que, segundo considerou, está a aumentar, o que é comprovado pelo facto se comercializarem cada vez mais produtos para veganos.
“As ofertas começam a ser mais abrangentes e há algumas empresas recentes como a portuguesa de calçado Nae ou a de queijos e leites vegan Gosto Natural”, exemplificou, acrescentando que essa oferta “está já a chegar ao [circuito] ‘mainstream’ [dedicado à maioria da população]”.
Embora assegure não sentir dificuldades em manter este estilo de vida, Orlando Figueiredo adiantou que a associação que preside está a trabalhar com empresas de restauração para que sejam criados menus especificamente veganos.

“O menu vegetariano já é relativamente fácil de encontrar, qualquer restaurante de massas tem um menu de massas com queijo ou coisa assim, mas estamos a trabalhar com algumas empresas no sentido de apresentarem alguns menus inteiramente veganos”, disse.
É nesta área da alimentação que a associação sente mais necessidade de apoios, já que no calçado e no vestuário, as dificuldades são menos notórias.
“Temos uma empresa portuguesa a produzir calçado vegan, que uso para comprar sapatos mais formais, e depois uso aquilo que se chama [calçado] ‘street urban’, tipo ténis que, de uma maneira geral, são feitos de algodão ou de lona”, adiantou.
Para comprar roupa, as opções são até mais fáceis, considerou.
“É mais fácil comprar roupa ética do ponto de vista dos direitos dos animais do que dos direitos humanos, porque muita da roupa é constituída essencialmente por algodão ou linho”, explicou Orlando Figueiredo.
Apesar de ser preciso contornar algumas dificuldades para se manter vegano, Orlando Figueiredo defendeu que não o fazer é que seria contranatura.
“Acho que [a ideia] de o homem ser um animal carnívoro é mais um mito social do que uma realidade sociológica”, apontou, adiantando que, quando lhe põem essa questão costuma perguntar quantas vezes é que o médico diz para comer mais carne e quantas vezes diz para comer mais vegetais.
“E quantas espécies de mamíferos é que se vê a alimentarem-se de leite de outra espécie, além da humana? Nenhuma. E quantos mamíferos continuam a consumir leite depois de adultos? Nenhum, além dos humanos”, concluiu.
Lusa