“Eu sei que os 4 serviços de neurorradiologia, que fazem neurorradiologia de intervenção, espontaneamente apresentaram em maio - porque a situação é tao escandalosa e houve tanto o doente que já sofreu - propostas para resolver o problema com trabalho conjunto e a tutela não resolveu problema e não deu resposta”, disse à Lusa o bastonário da Ordem dos Médicos, José Manuel Silva.

Em causa está a ausência de escalas de neurorradiologia de intervenção e de neurocirurgia vascular.

A prevenção aos fins-de–semana da Neurocirurgia-Vascular está suspensa desde abril de 2014 e da Neuroradiologia de Intervenção desde 2013, na sequência de cortes nas remunerações dos profissionais de saúde.

De acordo com a proposta, a que a Lusa teve acesso, os diretores de serviço de neurorradiologia dos hospitais Egas Moniz, Garcia de Orta, São José e Santa Maria obtiveram um “consenso de disponibilidade para assegurar a componente de terapêutica intra-arterial no AVC agudo em conjunto, constituindo um único serviço de urgência metropolitana (24h/7 dias por semana) assegurado entre os referidos hospitais, a articular com a via verde de AVC”.

A proposta lembra que estes hospitais dispõem de capacidade técnica e humana já instalada e refere que os diretores daquele serviço sentiram “a responsabilidade de agregar esforços a fim de dar resposta a mais um desafio que se apresenta ao atual SNS, informando deste modo a tutela” da disponibilidade e capacidade para “cumprir o dever deontológico e assistencial associado a esta patologia aguda”.

Segundo José Manuel Silva, esta proposta apresentada em maio ao então ministro da Saúde, Paulo Macedo, nunca teve seguimento nem qualquer resposta.

O jovem David Duarte, 29 anos, foi internado no Hospital de São José no dia 11 de dezembro, tendo-lhe sido diagnosticado uma hemorragia cerebral provocada por um aneurisma e a precisar de uma intervenção cirúrgica rápida.

No entanto, uma vez que nesta instituição não existe ao fim de semana equipas completas de neurorradiologia de intervenção para que as operações se possam realizar, tal como acontece no Hospital de Santa Maria, o jovem acabou por morrer sem a intervenção recomendada para o seu caso.

O bastonário da OM explica que as técnicas vasculares são muito específicas, implicam diferenciação, e só alguns neurocirurgiões fazem neurocirurgia vascular, mas que nesse fim de semana não estava nenhum de serviço.

No entanto, sublinha que em casos destes, na ausência de neurocirurgião vascular, a neurorradiologia de intervenção pode ser a solução.

O problema é que ambas as escalas estavam suspensas.

Além da proposta concreta para o problema da neurorradiologia (suspenso há mais tempo), José Manuel Silva considera que, mesmo com os cortes “cegos e absurdos determinados pelo anterior Governo”, seria possível com “boa organização” criar uma única escala de prevenção de neurocirurgia vascular.

“Não se entende que a ARS de Lisboa e Vale do Tejo não tenha resolvido [o problema], porque bastava organização, tal como a urgência metropolitana de Lisboa, bastava uma escala - porque são situações pouco frequentes – a funcionar alternadamente num hospital por mês”, afirmou.