21 de maio de 2013 - 09h35
Um estudo de investigadores da Universidade do Porto sugere que a doença de Parkinson dificulta o reconhecimento de emoções na voz e na música, esperando os autores “uma maior sensibilidade a estas dificuldades no funcionamento social” dos doentes.
As conclusões do novo estudo, que avança que o Parkinson dificulta o reconhecimento de emoções em estímulos auditivos, especificamente na voz e na música, foram avançadas à agência Lusa por um dos três autores, César Lima, doutorado em Psicologia pela Universidade do Porto e investigador Pós-Doc do Centro de Psicologia desta universidade e do Instituto de Neurociência Cognitiva da University College London.
“Resolvemos fazer este estudo porque, embora houvesse investigação prévia sobre o possível impacto na doença de Parkinson na nossa capacidade de reconhecer emoções nos outros, a verdade é que a maior parte desses estudos foram feitos apenas com expressões faciais e com resultados não muito consistentes”, explicou.
César Lima adiantou que os resultados – cujo artigo resultante foi publicado recentemente no Journal of Clinical and Experimental Neuropsychology - “sugerem que a doença de Parkinson parece estar associada a dificuldades mais no reconhecimento de emoções auditivas do que visuais, e que mesmo dentro das emoções auditivas podem existir especificidades dependentes do tipo de estímulo”.
“De um ponto de vista clínico, o que nós esperamos é que haja uma maior sensibilidade a estas dificuldades no funcionamento social e competências que são importantes para a comunicação e para o funcionamento social, de maneira a que elas também possam ser alvo de futuras terapêuticas com estes doentes”, enfatizou.
O estudo demonstrou que “quando as emoções eram comunicadas através da voz, as dificuldades dos doentes eram gerais, enquanto nas emoções que eram expressas através da música, as dificuldades foram específicas para as emoções positivas, como é o caso da alegria e da serenidade”, descreveu.
Segundo o especialista, “o facto das dificuldades dos doentes terem sido diferentes para a voz e para a música, mostra que, ao contrário que se tem discutido recentemente em neurociências, reconhecer emoções em voz não envolve apenas aspetos comuns do ponto de vista cerebral, mas há também aspetos que parecem ser específicos a cada um dos níveis”.
“De um ponto de vista mais clínico, podemos dizer - ou especular - que estas dificuldades no reconhecimento de emoções na doença da Parkinson podem estar associadas a dificuldades de comunicação com os outros e em termos de funcionamento social, e por isso devem ser alvo de atenção por parte dos clínicos”, defendeu.
Este estudo - da responsabilidade também de São Luís Castro, doutorada em Psicologia Experimental e Carolina Garrett, neurologista no Hospital S. João - foi realizado no âmbito de uma colaboração entre as faculdades de Psicologia e de Medicina da Universidade do Porto e foi financiado pela Fundação Bial e pela Fundação para a Ciência e a Tecnologia.
Os investigadores estudaram 24 doentes de Parkinson, seguidos no Serviço de Neurologia do Hospital de S. João, no Porto, e 25 pessoas saudáveis com a mesma idade e escolaridade.
Lusa