"As pessoas devem procurar, desde novas, ver a saúde como de facto é: um direito mas também um dever. Devemos ter uma saúde cada vez melhor para garantirmos uma velhice o mais saudável possível", disse à Lusa o docente do Instituto de Ciências da Saúde (ICS) da Universidade Católica do Porto, a propósito do dia Dia Internacional das Pessoas Idosas, que hoje se assinala.

Segundo o especialista, no final de 2016, Portugal registou, pela primeira vez, mais de quatro mil idosos com mais de 100 anos, passando a ter um índice de envelhecimento que "compromete a sobrevivência de população", situação que se deve, sobretudo, aos défices de nascimento, ao aumento da sobrevivência e à diminuição da mortalidade.

"A pirâmide etária da população tem evoluído e invertido", explicou, indicando que esse fenómeno surgiu "no virar do século", quando a percentagem de jovens passou a ser inferior à população idosa.

De acordo com o especialista, as assimetrias quanto à distribuição geográfica dos idosos "são grandes", com o sul e as zonas interiores "muito mais problemáticas" que o norte e o litoral.

"O Alentejo é a zona geográfica em que a pirâmide está mais invertida e onde sobrevivência das comunidades está mesmo em risco", afirmou.

Embora considere que no norte do país os problemas não são tão graves, no Porto, por exemplo, a taxa de envelhecimento situa-se acima dos 20%, com um índice aumentado nas freguesias menos habitadas.

Também o distrito de Braga, "considerado o mais jovem do país quando Portugal entrou para a comunidade europeia, tem aumentado progressivamente o seu índice de envelhecimento", contou.

Para o docente, é importante que seja feita uma aposta na formação e nas competências práticas dos cuidadores responsáveis pelo tratamento da população sénior, "muito diferente" daquele que é prestado às crianças, jovens ou adultos.

"É preciso formar as equipas em cuidados de saúde primários para que os idosos que vivem sozinhos, os idosos que cuidam dos idosos e as pessoas que estão à frente de instituições de apoio - como lares ou residências -, tenham e proporcionem uma melhor qualidade de vida a esta população", referiu.

O coordenador do Mestrado em Gerontologia e Cuidados Geriátricos do ICS acrescentou que, em momentos de crise, os cuidadores informais têm de ter formação suficiente para encaminhar e conhecer os riscos associados a essas situações, bem como uma visão crítica para adotar as melhores estratégias.

Outro ponto importante, na opinião de João Costa Amado, passa pela avaliação contínua das intervenções que são realizadas, de forma a verificar se as entidades e cuidadores estão "a satisfazer as necessidades dos idosos".

Essa formação deve abordar, entre outros tópicos, a gestão de medicamentos e de aspetos relacionados com défices mentais, auditivos ou visuais e a adaptação das casas às pessoas com dificuldades de mobilidade.

O especialista acredita ainda que os cuidadores informais têm uma vantagem importante em relação às instituições, que deriva da relação afetiva e da proximidade que estes têm com os idosos.

Além disso, "sai muito mais barato à sociedade se esses cuidados forem prestados por um cuidador informal que seja familiar ou alguém próximo do idoso", visto que os custos à nível domiciliário "são muito inferiores" aos exigidos nas instituições, concluiu.