“É um trabalho que traz muito retorno humano. Foi muito bonito. É uma experiência a repetir”, afirmou à Lusa, após o espetáculo, a palhaça Susana Cecílio, que, apesar de vários anos de experiência como atriz, apenas há dois se dedica “às palhaçadas”.

O festival, designado Bolina, decorre entre hoje e sábado na ilha açoriana de S. Miguel, com vários espetáculos, sendo que entre 26 e 29 de janeiro decorreu um “pré-festival” destinado a oficinas de formação e visitas a várias instituições.

Para Eva Ribeiro, palhaça há 13 anos e com grande experiência internacional, esta primeira experiência num lar foi “intensa e motivadora”, porque ultrapassados os receios iniciais houve “verdadeiros momentos de partilha, que passaram uma energia bestial”.

“Estava muito receosa, precisamente porque era a primeira vez. Tenho uma energia um pouquinho explosiva e tinha medo de não se adequar”, confessou Eva Ribeiro, que veste o papel da palhaça “Moska” e que, aos poucos, conquistou a audiência sénior com a sua performance.

A atuação de ambas as palhaças decorreu na sala de convívio do Lar da Levada, uma instituição da Santa Casa da Misericórdia de Ponta Delgada com 66 utentes, que estava devidamente decorada com trabalhos manuais feitos internamente e dedicados ao mundo dos palhaços.

Interação e alegria

Sentados em cadeiras de roda, madeira ou poltronas, idosos de várias idades e condições físicas assistiram ao evento, inicialmente em silêncio, que rapidamente deu lugar a momentos de interação e alegria.

“É muito emocionante chegar ali à sala e ver as pessoas a dançar, levantarem-se das suas cadeiras, pessoas que não interagem muito estão a fazê-lo neste momento”, disse Carla Veríssimo da organização do Bolina, manifestando satisfação por ter detetado “mais sorrisos na alma do que nos lábios” de alguns utentes.

Carla Veríssimo adiantou que o grande objetivo do Bolina é “deixar sementes para o futuro”, proporcionando “sorrisos sinceros e olhar nos olhos das pessoas”, formulando o desejo de que possa haver mais atuações do género antes da segunda edição do festival.

“Às vezes uma lágrima é muito mais interessante do que uma gargalhada. A diferença e diversidade de palhaças e estilos fazem com que a gente toque de maneira diferente cada pessoa”, afirmou Susana Cecílio, uma das 25 palhaças oriundas de seis países, que estão presente na primeira edição do Bolina.

Todas as participantes reconhecem a mais-valia deste primeiro encontro, que proporcionou vários espetáculos comunitários e outros, pelos momentos de partilha de experiências e pela visibilidade que se deu a esta profissão.

“Fiquei muito contente com esta iniciativa, aqui nos Açores, deste grupo de mulheres, principalmente da Maria Simões, que decidiu trazer mulheres de vários países para nos encontrarmos, partilharmos, fortalecermo-nos e irmos agora embora com uma rede internacional criada precisamente para nos podermos articular mais, oferecer um melhor trabalho”, afirmou Eva Ribeiro.

No sábado, pelas 22 horas (mais uma hora no continente) decorrerá, num bar em Ponta Delgada, uma gala com as 25 palhaças participantes na primeira edição do Bolina, em que cada uma fará um pequeno número.

O festival termina a 01 de fevereiro com uma sessão inédita de cinema, em que público e as palhaças, devidamente caracterizadas, vão assistir ao filme “Só para palhaços”, no Cine SolMar, pelas 21:30.

O festival internacional de Palhaças é promovido pelas Descalças Companhia Cultural e Associação 9 Circus, tendo também recebido a colaboração da La Garza Producciones.