Em declarações aos jornalistas após uma visita ao hospital de Santo Tirso, distrito do Porto, o presidente do Conselho Regional do Norte da Ordem dos Médicos (OM/Norte), Miguel Guimarães, enumerou a cardiologia, a obstetrícia, a oftalmologia, a oncologia médica, a otorrinolaringologia, a pneumologia e a pedopsiquiatria como especialidades que esta unidade poderá vir a perder "se conjugada a passagem para a Misericórdia e a Portaria 82/2014".

Miguel Guimarães disse ter-lhe sido transmitido pela administração do hospital a "dificuldade em manter recursos humanos e o facto de a renovação estar bloqueada".

"É difícil dar um número, mas falta seguramente mais de uma dezena de médicos e faltam objetivamente 14 enfermeiros", apontou o presidente do OM/Norte que foi acompanhado por representantes do Sindicato Independente dos Médicos (SIM) e do Sindicato dos Médicos do Norte (SMN).

O hospital de Santo Tirso integra o Centro Hospitalar do Médio Ave, juntamente com a unidade de Famalicão, e a 16 de dezembro do ano passado foi anunciada a sua passagem para a alçada da Santa Casa de Misericórdia, um processo que ainda não foi concluído e que, para a Ordem e sindicatos, está "a gerar instabilidade".

"Todos os médicos que contactamos ao longo desta visita estão preocupados. Não sabem exatamente o que lhes vai acontecer, o que não é um fator de motivação", descreveu Miguel Guimarães, com Manuela Dias, do SIM, a acrescentar que os profissionais "têm medo e não concorrem para esta unidade devido a uma indefinição que está a arrastar-se".

Outro dado focado prende-se com a formação médica especializada. Miguel Guimarães teme que a passagem da unidade de Santo Tirso para a alçada da Santa Casa culmine com a saída dos internos que estão a concluir a especialidade.

Ordem e sindicatos dos Médicos também apontaram que "têm existido deficiências na manutenção de equipamentos e falta de materiais, o que obriga ao recurso à unidade de Famalicão", enumerando situações detetadas com ventiladores ou na área da oftalmologia.

"Sempre que está em causa um meio sofisticado, isso [recurso à unidade de Famalicão] acontece", descreveu Merlinde Madureira, do SMN, aproveitando para recuar até à constituição do Centro Hospitalar do Médio Ave, considerando "grave" ter sido feito um centro hospitalar conjunto, cujos doentes provenientes de Santo Tirso e Trofa têm como hospital de referência o S. João, no Porto, e os doentes de Famalicão o de Braga.

"Sejam quem forem os negociadores e intermediários, em última análise o grande responsável por esta situação é o ministro da Saúde", resumiu Miguel Guimarães, vincando saber que a câmara de Santo Tirso, bem como o conselho de administração do Centro Hospitalar do Médio Ave têm sido arredados do processo.

"Até ao momento nunca fomos ouvidos. Estamos numa tentativa constante junto do Ministério de obter informações sobre este processo", confirmou o vereador da Saúde na autarquia de Santo Tirso, Alberto Costa, que marcou presença junto ao hospital de Santo Tirso, aproveitando para acrescentar que o orçamento do hospital de Santo Tirso "não é proporcional" em relação à unidade de Famalicão.

O autarca apontou que são 15.000 habitantes, incluindo da Trofa, que recorrem a esta unidade, número idêntico à população de Famalicão: "Seria de esperar que o investimento feito nesta unidade fosse de 50%, mas é de 35%", concluiu.