Em declarações aos jornalistas após uma visita ao serviço de urgência do CHVNG/E, o presidente do Conselho Regional do Norte da Ordem dos Médicos (CRNOM), Miguel Guimarães disse ter "visitado salas e corredores do serviço de urgência em que estão doentes internados em macas".

"É absolutamente indigno para os doentes e para os profissionais que se trabalhe em condições deste género", disse o responsável que apontou para 40 a 50 o número de doentes nessa situação.

O CRNOM visitou as instalações, acompanhado de representantes do Sindicato Independente dos Médicos (SIM) e o Sindicato dos Médicos do Norte (SMN), tendo as três entidades apontado que o CHVNG/E tem 550 camas para internamento agudo, ou seja uma média de 1,6 camas por cada mil utentes abrangido direta e indiretamente por este equipamento de saúde.

Os dados da Ordem e dos sindicatos prendem-se com a existência de 340 mil habitantes em Gaia e em Espinho, logo diretamente dependentes do CHVNG/E, que, por ser o hospital de referência de outros concelhos a sul destes concelhos, serve indiretamente 700 mil habitantes.

"É um rácio extraordinariamente baixo. Há claramente uma falta de camas para internamento de doentes agudos e isto condiciona congestionamentos absolutamente extraordinariamente no serviço de urgência", disse Miguel Guimarães que também falou em falta de médicos, enfermeiros e assistentes operacionais.

Falta de médicos

Outro dos dados criticados pelo responsável da Ordem dos Médicos prende-se com o facto de entre as 24h00 e as 08h00 não haver na urgência do CHVNG/E radiologistas, ou seja, ainda que seja possível realizar TAC (tomografia computorizada), não é possível realizar ecografias.

Às críticas de Miguel Guimarães juntaram-se Merlinde Madureira, do SMN, e Manuela Dias, do SIM, com esta última a lançar uma crítica ao ministro da Saúde por, segundo afirmou, "conhecer bem esta realidade" uma vez que "pouco tempo depois de tomar posse" se deslocou àquele hospital.

"No dia em que cá veio o caos era bem maior do que é hoje. Era o caos dos verdadeiros dias de caos e dos maus dias para os doentes e para os profissionais", disse Manuela Dias.

"Gaia é um hospital eternamente adiado. O hospital do maior concelho da Área Metropolitana do Porto continua adiado (…). É a desesperança e o descredito. Há nesta casa um espírito de desconfiança grande face a quem disser que vai resolver esta situação", acrescentou a dirigente do SIM.

Já Merlinde Madureira realçou que estes alertas andam a ser feitos há muitos anos e lamentou ter sido necessário chegar a "situações extremas".

"Há um desinvestir sucessivo e sustentado em diferentes áreas do serviço nacional de saúde (…). As urgências estão esvaziadas de meios. Tudo está reduzido sucessivamente", afirmou.

A "promessa não cumprida" do Ministério de que vão ser criadas camas de cuidados continuados também mereceu destaque nas declarações dos responsáveis que lembraram que a existência deste tipo de camas permite "descongestionar o atendimento do serviço de urgência".