Um ano depois de terem chamado a atenção para o risco de “colapso” no Centro Hospitalar de Trás-os-Montes e Alto Douro (CHTMAD), os representantes do Conselho Regional do Norte da Ordem dos Médicos (CRNOM) e do Sindicato Independente dos Médicos – Norte fizeram uma nova visita à unidade de Vila Real.

Miguel Guimarães, presidente do CRNOM, afirmou, em conferência de imprensa, que a “situação do CHTMAD é absolutamente insustentável”, destacando como área “mais crítica” o serviço de anestesia, onde disse que “há um grande défice” de recursos humanos.

“De imediato são precisos pelo menos 14 anestesistas. Precisam de 32, mas para já, para já, para não encerrar ainda mais atividades ou ficar reduzidos a um serviço de urgência, são precisos mais 14 anestesistas”, sustentou Manuela Dias, do Sindicato Independente dos Médicos.

Miguel Guimarães acrescentou que, em média, nos últimos quatro meses, foram “adiadas mais de 30% das cirurgias”, ficando estas praticamente reduzidas às oncologias.

O presidente da Ordem do Norte referiu que “uma percentagem já significativa" do serviço da área de anestesiologia, nomeadamente no serviço de urgência e em alguns tempos operatórios, está a ser “assegurada por médicos tarefeiros”.

Várias especialidades afetadas

Mas a falta de especialistas nesta área poderá “ter também consequências dramáticas na formação médica especializada”. “Devido à exiguidade de especialista e ao tempo que os especialistas podem dar aos internos pode pôr em causa a continuidade da idoneidade. Aliás, vamos ter que pedir ao colégio da especialidade que analise esta situação”, alertou Miguel Guimarães.

A falta de médicos anestesistas está a provocar, por arrasto, problemas em outras especialidades como na cirurgia geral, na urologia, na otorrinolaringologia, oftalmologia ou ortopedia.

Manuela Dias sublinhou que também a “urologia deu um grito de desespero”. O presidente do CRNOM acrescentou que este serviço conta com apenas três especialistas, que "não dão sequer para assegurar o serviço de urgência”.

“Se porventura os médicos que trabalham neste hospital respeitassem em absoluto a lei e não fizessem mais trabalho do que aquele que está previsto na lei, este hospital entrava completamente em colapso e os doentes deixavam de ter acesso a cuidados de saúde”, frisou Miguel Guimarães.

Manuela Dias aproveitou para fazer um “enorme elogio a todos os trabalhadores do centro hospitalar” e sublinhou que a “maior parte dos médicos trabalha muitíssimas horas para lá do seu horário e muitas delas graciosas”.

“E só assim é que se consegue que isto continue com o tal fio esticadinho, esticadinho e ainda não tenha colapsado de vez, mas alguma vez isso vai acontecer”, salientou Manuela Dias.

A dirigente referiu que o problema da falta de especialistas no CHTMAD praticamente se arrasta “desde 2011”, com a “diminuição de recursos humanos e défices de contratações”.

Miguel Guimarães considerou que o conselho de administração do centro hospital e a Administração Regional de Saúde “têm lutado para que as situações mais graves sejam resolvidas, mas a realidade, é que passado um ano a situação até se agravou em alguns casos”.

O responsável disse que a população do distrito de Vila Real está a ser “considerada de segunda categoria” e defendeu que “os políticos têm que começar a ser responsabilizados”.

O conselho de administração do CHTMAD, que abrange os hospitais de Vila Real, Lamego e Chaves, não se quis pronunciar sobre estas denúncias.