“O Ministério da Saúde e o Ministério da Solidariedade Social têm de se entender no que respeita aos lares de terceira idade”, defendeu hoje o bastonário da Ordem dos Enfermeiros (OE), Germano Couto, sustentando que, “muitas vezes, as mortes acontecem, não por responsabilidade dos hospitais, mas sim porque [os doentes] não tiveram os cuidados necessários a montante”.

Referindo-se ao “número atípico” de mortes registadas nas urgências de vários hospitais, o bastonário considerou que tal não decorre “apenas da falta de meios dos hospitais, do ponto de vista da falta de recursos humanos ou das estruturas em si”, mas também da falta de resposta “ao nível dos lares de terceira idade e de resposta dos cuidados de saúde primários”.

Dos cerca de 3000 lares em Portugal, “a maioria não tem cuidados de saúde, nem médicos, nem enfermagem”, o que, a juntar a “imensos idosos abandonados”, transforma os hospitais num “fim de linha para as pessoas que não têm apoiou social”, quando, defende Germano Couto, deveriam ser “os cuidados de saúde primários a dar estas respostas”.

A posição foi expressa no final de uma visita da OE ao Hospital das Caldas da Rainha, onde o bastonário encontrou “um certo caos instalado”, com cerca de 20 macas nos corredores do serviço, o que “não permite prestar cuidados com a segurança e a qualidade necessárias”.

"A grande maioria [destes doentes] tem mais de 70, 75 ou 80 anos”, o que reforça a necessidade de “intervir a montante”, apesar de o Hospital das Caldas da Rainha ser um daqueles em que é fundamental “o ministério [da Saúde] dar condições estruturais”, por não se encontrar “preparado para a população que abrange”.

De acordo com a OE, o Hospital das Caldas da Rainha tem atualmente “um défice de 70 enfermeiros”, para cumprir os rácios de qualidade dos vários serviços e, só no serviço de urgência, a carência é de “sete enfermeiros”.

Ainda assim, porém “reforçar equipas de médicos e enfermeiros não chega” para dar resposta às necessidades da unidade onde “46% dos doentes têm pulseira verde e azul”, não configurando verdadeiras urgências, afirmou o bastonário dos enfermeiros.

Certo é, para Germano Couto, que o país vive “uma situação previsível”, sabendo o Ministério da Saúde “que, todos os anos, na época do inverno, há uma afluência anormal às urgências”, pelo que, sublinha, “o Governo tem de planear com antecipação”, ao invés de se limitar a fazer “planos de contingência em cima do acontecimento”.

Carlos Sá, presidente do conselho de administração do Centro Hospitalar do Oeste (CHO), do qual fazem parte o hospital das Caldas da Rainha e as unidades de Peniche e Torres Vedras, reconheceu que a afluência às urgências teve um aumento “na idade dos doentes” e no número “doentes deitados, debilitados e com patologias crónicas”, que aumentam o seu tempo de internamento e contribuem para o condicionamento do serviço.

Um panorama a que, segundo o mesmo responsável, o CHO tem tentado responder com o aumento de 10 camas de internamento em Peniche, a aquisição de mais seis macas e a realização de reuniões com os centros de saúde e corporações de bombeiros, para estudar outras soluções.

Quanto à falta de enfermeiros denunciada pela OE, o CHO recordou que está a decorrer um concurso para a integração de 18 enfermeiros que vão preencher a totalidade das vagas do mapa de pessoal da instituição.

O CHO abrange 295.000 habitantes dos concelhos das Caldas da Rainha, Óbidos, Peniche, Bombarral, Torres Vedras, Cadaval e Lourinhã e de algumas freguesias dos concelhos de Alcobaça (Alfeizerão, Benedita e São Martinho do Porto) e de Mafra (com exceção das de Malveira, Milharado, Santo Estêvão das Galés e Venda do Pinheiro).