“Esta Unidade de Saúde Familiar (USF) foi constituída com nove médicos, mas, desde 2014, nunca conseguiu ter esses nove médicos” e, recentemente, “a situação agravou-se”, afirmou hoje à agência Lusa a presidente da Sub-região de Évora da OM, Augusta Portas Pereira.

Das nove vagas, referiu, “apenas seis estão preenchidas”, porque “dois médicos reformaram-se logo em 2014” e, dos que os substituíram, “um está com atestado desde então, enquanto o outro já foi transferido”. Recentemente, acrescentou, “outro dos médicos que lá se encontrava foi autorizado pelo agrupamento de centros de Saúde a sair para outra USF, no concelho de Arraiolos”.

“O quadro que a USF de Reguengos de Monsaraz/Mourão devia ter para prestar cuidados de saúde aceitáveis à população está sempre em défice. E, perante esta situação, estranha-se que os médicos, quando são convidados por outra USF, sejam autorizados a sair”, criticou a responsável da OM em Évora.

Lembrando que a USF abrange dois concelhos do distrito de Évora com territórios “muito extensos”, servindo um total de 14 mil utentes, Augusta Portas Pereira alegou que esta falta de clínicos “prejudica os cuidados de saúde prestados aos doentes”. “Os poucos médicos da USF, em vez de conseguirem fazer medicina preventiva programada, com continuidade e qualidade, têm que andar a correr pelas nove extensões de saúde, para colmatarem a falta de profissionais”, disse.

Conflitos e tensões

Já a consulta aberta da unidade, explicou, funciona, aos dias de semana e aos sábados, com recurso à prestação de serviços de uma empresa de “outsourcing” e, aos domingos, é assegurada pelos clínicos da USF. “Os utentes já sabem que os seus médicos estão de serviço aos domingos e, nesse dia, é que recorrem à consulta aberta, o que gera uma afluência muito grande, alguns conflitos e tensões e é uma carga de trabalho muito grande, que até pode pôr em causa a qualidade do ato médico”, afirmou.

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A responsável da OM em Évora enviou um relatório desta situação para entidades como a Administração Regional de Saúde (ARS) do Alentejo e o Agrupamento de Centros de Saúde Alentejo Central e defendeu que o quadro clínico da USF “tem de ser estabilizado de vez”, devendo “ser inviabilizada”, até lá, a saída de médicos.

Contactado pela agência Lusa, o presidente da ARS do Alentejo, José Robalo, disse já ter tido conhecimento do relatório da OM e negou que a equipa esteja “desfalcada”, contrapondo também que a USF “conta com sete médicos”.

“Até que consigamos preencher as vagas através de concurso, a USF tem meios suficientes para responder às necessidades dos utentes, com os seus profissionais, as horas da empresa de ‘outsourcing’ e uma médica cubana que faz oito horas em Mourão, em regime de avença”, argumentou.

Quanto à transferência de profissionais para outras USF, José Robalo aludiu à lei: “Há uma legislação que permite a mobilidade de profissionais entre USF e, por isso, as transferências não têm que ser autorizadas, são automáticas”.