Jaime Mendes, presidente daquela entidade, realizou esta terça-feira uma visita ao hospital de Abrantes, integrado no Centro Hospitalar do Médio Tejo (CHMT), a par das unidades de Tomar e Torres Novas, tendo reunido com a administração do hospital para "abordar aspetos graves de funcionamento" daquela unidade do distrito de Santarém.

"São várias as áreas críticas de funcionamento neste CHMT, com denúncias, queixas e participações que não se coadunam com a mais básica e elementar forma de gestão, com especial destaque para a Tomografia Axial Computorizada (TAC), o serviço de Oncologia, o da Urgência Médico-Cirúrgica, mas também o de pediatria e neonatologia, entre outros", destacou Jaime Mendes, em declarações à agência Lusa.

Num relatório enviado ao bastonário da Ordem dos Médicos, a que a agência Lusa teve acesso, pode ler-se que "existem falhas gravíssimas e erros absurdos nos relatórios da TAC, com documentos a omitirem tumores e aneurismas volumosos e a identificarem uma prótese como sendo um nódulo. Tais situações tornam impossível qualquer exercício de estudo fundamentado ou diagnóstico com um mínimo de segurança", acrescenta.

Falta de serviços

No âmbito da maternidade, e ainda no mesmo relatório, é referido que o serviço de neonatologia "tem uma escala de serviço de sete dias por semana, 24 horas por dia. Mas não existe ali nenhum serviço porque, simplesmente, não existe nenhum neonatologista a trabalhar atualmente no CHMT, questão de enorme gravidade".

Ao nível da Ortopedia, "o serviço não funciona às terças-feiras nas Urgências porque não existe ortopedista nesse dia. Este facto obriga a que todos os doentes que se dirigem à Urgência por patologias orto-traumatológicas sejam transferidos para Santarém, a uma distância de 90 quilómetros".

Ao nível da Pediatria, que funciona em Torres Novas, Jaime Mendes defendeu à Lusa que o serviço "deveria estar concentrado em Abrantes, onde está a maternidade", tendo igualmente defendido a concentração do serviço de Cirurgia, atualmente em Tomar, na unidade hospitalar de Abrantes, "onde está Urgência Médico-Cirúrgica".

O documento, que dá outros exemplos de "erros gravíssimos e falhas absurdas", apela a uma reversão da degradação na prestação de cuidados médicos, desde logo com uma alteração ao modelo em vigor no CHMT de complementaridade de valências e dispersão de serviços.

"Dantes, havia três hospitais que funcionavam e serviam as populações. Agora, temos três hospitais metidos num centro hospitalar, onde praticamente nada funciona", vincou, tendo feito notar que o regime de complementaridade de valências em vigor "atenta contra a ética profissional, contra os bons princípios e contra a prestação de bons cuidados de saúde à população".

"E não se poupa dinheiro nenhum, ao contrário do que se poderia pensar", disse ainda Jaime Mendes, tendo feito notar que "problemas de igual gravidade são sentidos em outros centros hospitalares, como os do Algarve ou do Norte Alentejano".

Constituído pelas unidades hospitalares de Abrantes, Tomar e Torres Novas, separadas geograficamente entre si por cerca de 30 quilómetros, o CHMT funciona em regime de complementaridade de valências, abrangendo uma população na ordem dos 255 mil habitantes de 12 concelhos do Médio Tejo, no distrito de Santarém, e ainda dos municípios de Gavião e Ponte de Sor, ambos de Portalegre.