17 de abril de 2014 - 11h01
O bastonário da Ordem dos Médicos considerou hoje inaceitável que cerca de 80 doentes graves estejam à espera de um dos novos medicamentos contra a hepatite C e apelou aos médicos que informem a Ordem da situação.
O Diário de Notícias adianta, na sua edição de hoje, que há cerca de 80 doentes graves em todo o país que estão à espera há meses de um novo medicamento contra a hepatite C que tem uma taxa de cura de 90% e que foi aprovado na Europa a 17 de janeiro.
Em causa está o medicamento Sofosbuvir, cuja introdução em Portugal já foi aprovada, mas que ainda não tem concluído o estudo relativo à comparticipação concluído, o que obriga as unidades hospitalares a recorrer a pedidos de autorização excecionais (AE). Estes AE são feitos nos hospitais, mas têm que ser aceites também pela Autoridade Nacional do Medicamento e Produtos de Saúde (Infarmed).
Em declarações à agência Lusa, o bastonário da Ordem dos Médicos disse que a situação “não é normal, nem aceitável”, uma vez que a vida dos doentes está a ser posta em causa.
“Não sabia que estavam tantos doentes à espera da AE. Este medicamento quase que permite erradicar a hepatite C e há doentes que têm indicação para o fazer. Não se compreende que haja este desfasamento de resposta. Não se pode fazer veto de gaveta com a saúde das pessoas”, disse.
José Manuel Oliveira afirmou ser inaceitável atrasar o tratamento das pessoas quando existem medicamentos que as podem curar.
“O apelo que temos feito, e que reitero, é que os médicos enviem para a Ordem cópias dos pedidos de AE para que a Ordem possa interpelar o Infarmed, exigir uma resposta e fazer o acompanhamento da situação. Aos doentes que tenham indicação formal para tomar o medicamento não lhes pode ser negado tratamento”, frisou.
José Manuel Silva lembrou que, no final do ano passado, já tinha chamado a atenção para esta situação.

“A hepatite C mata por evolução para cirrose ou cancro do fígado e não se sabe quando é que faz essa passagem de uma doença crónica curável para uma doença irreversivelmente progressiva até à morte”, sublinhou, acrescentando que a taxa de cura com o novo medicamento é de 90%.
“Não sei quais são as negociações que estão a decorrer entre o ministério da Saúde e os laboratórios, nem de tenho de saber, mas não é aceitável esta demora na resposta a pedidos feitos, fundamentadamente, para doentes que precisam desta terapêutica, que já está a aprovada como terapêutica de primeira linha e com uma taxa de cura de 90%”, concluiu.
Os dados divulgados hoje no Diário de Notícias têm por base informação recolhida pela SOS hepatites.
Em dezembro, o bastonário da Ordem dos Médicos tinha avançado que havia doentes com hepatite C “condenados à morte” por ainda não ter sido autorizada a comparticipação de novos medicamentos para combater a doença.
No início do ano, o Infarmed revelou que tinha chegado a acordo com a indústria farmacêutica para a comparticipação do tratamento da hepatite C, depois de meses de negociação.
Lusa