O Homem é um ser comunicante por excelência. A fala constitui o seu principal veículo de comunicação, sendo determinante no desenvolvimento cognitivo, na aprendizagem e na relação interpessoal a nível familiar, social e profissional.

Uma alteração da qualidade auditiva, por muito pequena que ela seja, é suficiente para causar perturbações no processo de comunicação oral, com consequências não só na qualidade e conteúdo da informação rececionada pelo interlocutor, como também em possíveis alterações comportamentais.

Importância da deteção na infância

Existem vários exemplos diários que ilustram esta realidade, apesar de alguns deles não serem muitas vezes diretamente associados às dificuldades auditivas. Uma criança que nasce com uma perda auditiva ou a adquira nos primeiros dois anos de vida, consoante o grau, poderá ficar privada de aceder ao desenvolvimento da linguagem oral, com graves repercussões no seu desenvolvimento cognitivo e comportamental.

Uma criança em idade escolar que apresenta dificuldades auditivas, é normalmente uma criança desatenta e com dificuldades escolares pela sua desintegração do meio auditivo em ambiente escolar.

Um adulto em ambiente familiar, social ou laboral necessita de uma excelente qualidade auditiva, se quiser ter acesso a todo o conteúdo informativo veiculado na empresa pelas chefias, pelos colegas ou pelos familiares e amigos. A exposição ao ruído e à música forte em concertos e através de auscultadores é hoje uma realidade entre os jovens. A falta de sensibilização e desconhecimento relativamente à perda precoce progressiva e definitiva da audição com este tipo de exposição, necessita de ser abordada com várias ações junto da população.

Uma deficiente receção da informação oral veiculada é muitas vezes suficiente para que possam surgir interpretações erradas das instruções ou recomendações, levando a que sejam praticadas ações, muitas vezes descontextualizadas e fora do pretendido.

A principal consequência é quase sempre uma interpretação errada, por parte do interlocutor, como se a pessoa com dificuldades auditivas fosse menos capaz inteletualmente, indiferente às suas obrigações, alheado da realidade ou pouco educado. A comunicação verbal é demasiado rápida e ao contrário do que se passa com a imagem visual, que é estática, a imagens auditivas verbais, e outras, são instantâneas, muito dinâmicas e dificilmente se repetem.

Há portanto um grande conteúdo informativo envolvente que é permanentemente perdido pelas pessoas que apresentam dificuldades auditivas, quase sempre nunca percecionado pelo próprio, levando progressivamente a um afastamento da realidade comunicativa em termos familiares, sociais e profissionais.

Não deixe que isto aconteça consigo. Se se identifica com alguma destas situações ou em algum familiar ou amigo não perca tempo, procure ajuda junto do seu médico ou audiologista, pois existem hoje soluções para prevenção e para a reabilitação de todos os tipos e graus de perda auditiva. A privação auditiva é hoje considerada uma das causas importantes de envelhecimento precoce.

Tendo o DeafTalks 2014 sido um sucesso, não hesitámos em apoiar este ano a terceira edição, procurando enriquecer ainda mais as iniciativas que visam melhorar a prevenção da surdez, através dum painel diversificado de participações individuais, procurando sobretudo dar voz aos próprios.

Pensamos que a partilha de experiências, na primeira pessoa, é uma forma de sensibilizar a sociedade para o facto de existirem várias realidades da deficiência auditiva das quais resultam vivências muito próprias. O facto dos próprios poderem expressar em público a sua história de vida assume um carácter emocional fortíssimo, permitindo uma maior eficácia no processo de sensibilização das entidades e da sociedade em geral.

Por Rui Ribeiro Nunes, audiologista e diretor geral da Widex Portugal