Mais de 70 por cento dos alunos homossexuais dizem ser vítima de "bullying" (assédio) nas escolas, segundo as Nações Unidas, cada vez mais preocupadas com o fenómeno e que já preparam um conjunto de recomendações aos governos.

À frente dos esforços da ONU está a Agência para a Educação e Cultura (UNESCO), cujo diretor em Nova Iorque, Philippe Kridelka, afirmou que as vítimas de assédio homofóbico apresentam maiores taxas de abandono escolar e que este é "um dos maiores fatores que levam ao suicídio entre os jovens".

"Por isso, a UNESCO acelerou recentemente os seus esforços para lidar com o assédio homofóbico nas escolas", disse Kridelka, numa conferência nas Nações Unidas sobre o "bullying", organizado por organizações de Direitos Humanos e alguns estados membros, como a Noruega.

Por causa da orientação sexual ou identidade de género, jovens "são frequentemente sujeitos a violência dentro de escolas e universidades", o que "viola o direito à Educação e a um ambiente de aprendizagem são".

Em muitos países da OCDE, a percentagem de alunos "gay" que dizem ser vítimas de assédio homofóbico supera os 70 por cento, "nalguns 90 por cento", disse Kridelka.

"As consequências podem ser desastrosas para os indivíduos e para a sociedade", afirmou.

O evento, realizado ontem, contou com a participação de vários ativistas dos direitos de jovens LGBT, como um jovem nigeriano Ife Orazulike que tem vindo a receber ameaças de morte, e Judy Shepard, cujo filho foi espancado até à morte em 1998 num dos maiores crimes homofóbicos recentes nos Estados Unidos.

Tomando a liderança entre as agências da ONU, a UNESCO lançou há poucos meses uma pesquisa global sobre o assédio homofóbico nas escolas.

Na base está o trabalho que tem sido desenvolvido no Brasil e Ásia para criar materiais escolares que ajudam professores e alunos a discutir a diversidade sexual, entre outras iniciativas recentes.

Depois de um estudo de políticas existentes em escolas e universidades em todo mundo sobre o assédio homofóbico, "medidas que funcionam, o que falta e quais as ações prioritárias que precisam de apoio", os resultados da pesquisa estão a ser avaliados, esta semana no Rio de Janeiro, por peritos e atores políticos de todo o mundo, disse Kridelka.

"O plano é identificar as melhores condutas e recomendações práticas que podem ser partilhadas com Ministérios de Educação em todo o mundo para guiar o desenvolvimento e implementação de políticas apropriadas à idade e contextos específicos", adiantou.

Em junho desta ano, o Conselho de Direitos Humanos aprovou a primeira resolução da ONU específica sobre os direitos da comunidade LGBT, expressando "grave preocupação" com a violência baseada na identidade de género e pedindo ao Alto Comissariado para os Direitos Humanos para fazer um levantamento sobre o fenómeno em todas as regiões.

Este estudo estará disponível nas próximas semanas, e será discutido em março no Conselho dos Direitos Humanos, em Genebra, segundo adiantou o secretário-geral adjunto da ONU para os Direitos Humanos, Ivan Simonovic.

A violência e discriminação homofóbica contra jovens tem tido "atenção a menos" na ONU, referiu, mas a publicação deste documento é "um sinal de progresso nas Nações Unidas e um reflexo de maior consciencialização global sobre a seriedade e legitimidade da preocupação sobre o tratamento de indivíduos LGBT".

09 de dezembro de 2011

@Lusa