Esta epidemia da doença foi a mais grave desde que o vírus do Ébola foi descoberto há mais de 40 anos, com 28.601 casos contabilizados, dos quais uma terça parte (11.299) morreram.

Nos últimos meses, o número de vítimas diminuiu de forma continuada e em novembro só foram registados três casos, todos na Libéria, país que no início de setembro tinha sido declarado livre de Ébola.

Para os especialistas da Organização Mundial de Saúde (OMS) a cadeia inicial de transmissão do vírus foi destruída e estes casos residuais estão relacionados com pessoas que venceram a doença, mas mantêm no organismo resíduos do vírus que podem transmitir.

Os estudos realizados durante a epidemia demonstraram que o sémen de homens convalescentes de Ébola pode conter a carga viral por um prazo de até nove meses e os cientistas pensam que as recentes infeções na Libéria estão relacionadas com casos deste tipo.

"Há evidências de que vão registar-se casos de vírus (proveniente) de população convalescente que vamos ter que resolver", disse recentemente o diretor executivo da OMS para as emergências sanitárias, Bruce Aylward.

A OMS espera que a presença residual do vírus do Ébola no sémen de homens que tiveram a doença desapareça durante os próximos seis a 12 meses.

O panorama é agora mais otimista uma vez que, durante os dois anos da epidemia, os países afetados foram dotados de infraestruturas e capacidades necessárias para prevenir, detetar e responder a qualquer foco grave.

"Avançámos muito relativamente ao pico da epidemia e estes novos casos vão diminuir progressivamente, e esperamos que parem totalmente em 2016", sublinhou Aylward.

A Guiné-Conacri, Libéria e Serra Leoa contam agora, cada um, com três equipas de especialistas prontos para entrar em funcionamento no prazo de 48 horas e com capacidade para gerir qualquer ressurgimento de casos, como se verificou recentemente na Libéria.

"o que aconteceu na Libéria demonstra a rápida capacidade de resposta e como a situação atual mudou", acrescentou.

A Serra Leoa foi declarada livre do Ébola a 07 de novembro e até agora mantém-se no período de 90 dias de vigilância sanitária reforçada, que termina a 05 de fevereiro próximo, desde que não seja registado qualquer novo caso até lá.

Na Guiné-Conacri está em curso o período de 42 dias sem casos e o último doente, depois de se recuperar, apresentou pela segunda vez resultados negativos nas análises de controlo. Cumpridas estas condições, este país poderá ser declarado livre do Ébola.

"Estamos moderadamente otimistas e acreditamos ter chegado ao fim de qualquer transmissão associada ao foco original de Ébola", declarou Aylward.

Para isto, os países contam com novos instrumentos, como análises de diagnóstico rápido, que são avaliadas em cada um deles e equipas de laboratório com pessoal local, ainda em formação.

Desta maneira será possível realizar as análises finais de confirmação, com tecnologia de ponta que não existia há um ano.

Um das ferramentas mais importantes, disponível agora, é a vacina que ultrapassou as primeiras fases de testes clínicos e pode ser aplicada a pessoas em risco de contrair o vírus.

Este produto ainda não tem as autorizações necessárias e só pode ser usado em ensaios ou casos específicos.

Aylward indicou que a OMS está a trabalhar com so produtores e entidades reguladoras para conseguir "um acesso alargado e utilização como parte da resposta" perante eventuais novos focos da doença.

Para manter o plano de resposta ao Ébola nos três países afetados e erradicar a doença são necessários, até março próximo, 244 milhões de dólares (cerca de 225 milhões de euros), dos quais só foram conseguidos 121 milhões.

Os casos mais recentes na Libéria "demonstram a necessidade destes recursos", de acordo com o enviado especial da ONU para o Ébola, David Nabarro.