Das 800 mulheres inquiridas, com idades entre os 30 e os 60 anos, 83,1 por cento responderam fazer citologias, e destas 93,5% dizem fazê-lo de forma regular.

A maioria (59,8%) afirmaram fazer o exame uma vez por ano e 24,8% de dois em dois anos.

O estudo global foi promovido pelo Programa Nacional de Doenças Oncológicas, decisão tomada depois de dados terem revelado uma diminuição da adesão das mulheres aos rastreios do cancro do colo do útero realizados pelas administrações regionais de saúde, em que a população alvo é convidada a fazer o rastreio.

O diretor do Programa Nacional de Doenças Oncológicas, Nuno Miranda, que hoje apresentou os dados no Instituto Português de Oncologia, no âmbito da Semana Europeia da Luta Contra o Cancro do Colo do Útero, considera "muito positivos" os dados obtidos com o estudo global, que inclui também os rastreios feitos nas consultas privadas.

"São dados que explicam e justificam a diminuição da mortalidade" por este tipo de cancro, cuja taxa caiu de 3,30 em 2011, para 2,80 em 2012, disse Nuno Miranda aos jornalistas.

A sondagem revela ainda que 16,8% das inquiridas nunca fez uma citologia, sendo que destas 18%aponta como motivo para a não realização do exame "não saber como proceder".

"Temos alguma população ainda para cobrir e preocupa-nos a população mais desfavorecida do ponto de vista social porque essas serão as que terão mais dificuldade em chegar a meios fora do rastreio organizado", disse Nuno Miranda.

Os principais locais apontados para a realização do rastreio foram sobretudo os centros de saúde (53,8%), mas o estudo não conseguiu estabelecer se o maior número de respostas afirmativas está relacionado com a existência de médico de família.

Os médicos privados foram responsáveis pela realização de 39,5% dos rastreios.

"Podemos dizer que na região onde consideramos que há menos população com médico de família, o Algarve, existe também menor taxa de cobertura, mas quando vamos ver todas as regiões não encontramos uma relação direta", disse Nuno Miranda.

Por regiões, é no Algarve que as mulheres menos afirmam ter realizado citologias (61%) e na região norte onde mais dizem fazer o exame (89,8%).

Em Lisboa, onde ainda não foi implementado um rastreio organizado, a percentagem de mulheres que afirmou ter realizado rastreio atinge os 85%, sendo a segunda maior a nível nacional.

Questionado sobre a influência da vacina contra o HPV [Vírus do Papiloma Humano], contemplada no Plano Nacional de Vacinação em Portugal desde 2008, na diminuição da mortalidade por cancro do colo do útero, Nuno Miranda adiantou que esses resultados ainda não são visíveis.

"A vacinação ainda não é responsável por esta redução. Esperamos ver isso dentro de cinco anos, mas não consideramos que a vacinação seja uma alternativa ao rastreio. As mulheres vacinadas também têm que ser rastreadas", sublinhou.

Nuno Miranda adiantou que o cancro do colo do útero já não é dos que mais mata em Portugal e, segundo o especilista, a mortalidade pode ser "reduzida quase a zero".

"Podemos reduzir significativamente a mortalidade e nos tumores onde podemos intervir em termos preventivos [ vacinação e diagnóstico precoce]é onde temos que investir tudo porque são onde que mais vidas salvam", disse.

Anualmente são diagnosticados em média mil novos casos de cancro do colo do útero em Portugal.