Como é que o lixo humano vai parar aos oceanos?

Cerca de 80% do lixo marinho provém de atividades terrestres. A origem do lixo não está necessariamente ligada às atividades humanas localizadas no litoral: o lixo pode chegar ao mar, por exemplo através dos rios ou do vento. A eliminação incorreta do lixo doméstico, a gestão deficiente dos resíduos urbanos, nomeadamente no transporte e no acondicionamento do lixo, as descargas irresponsáveis de resíduos industriais, as lixeiras a céu aberto e mesmo os aterros são algumas das principais causas deste problema.

Também as atividades humanas no mar, como a pesca, o transporte marítimo, os cruzeiros turísticos e as plataformas petrolíferas contribuem para agravar este problema.

Não devemos participar em eventos que realizem lançamento de balões – a maioria dos balões acaba no oceano, afetando a vida marinha

Como é nos podemos certificar de que isso não acontece?

O mote da nossa campanha #OceanoAzul representa a realidade: o que não acaba no lixo acaba no mar. Por isso, colocar o lixo no sítio certo é um dos primeiros passos para contribuirmos para um oceano mais saudável. Ao melhorar a nossa gestão dos resíduos, podemos reduzir a ameaça que o plástico representa para o oceano.

Temos pequenos gestos, aparentemente inofensivos, e muitas vezes bem longe da água, que têm impacto no oceano. É o que acontece quando atiramos as beatas dos cigarros para o chão ou deitamos um cotonete para a retrete. As beatas são o item mais encontrado na costa e nas praias portuguesas e o cotonete o segundo.

A longo prazo, acabaremos por comer o nosso próprio lixo? Ou isso já acontece hoje em dia?

O que sabemos hoje é que o plástico constituí já 90% do lixo encontrado no fundo do oceano. A grande maioria dos plásticos não é biodegradável. Na realidade, o plástico tem uma durabilidade muito grande e pode permanecer no ambiente durante centenas ou milhares de anos, podendo nunca chegar a desaparecer. Ao longo do tempo, o plástico vai dando origem a partículas cada vez mais pequenas, que permanecem no oceano.

Existem estudos que mostram o zooplâncton a ingerir plástico e outros que revelam a presença de microplásticos em algumas amostras de sal marinho utilizado para uso doméstico.

Também o uso de produtos de higiene com microplásticos constituem uma fonte direta de entrada de plástico no oceano através das águas domésticas

Como é que os portugueses podem reduzir a sua pegada ambiental? 

É muito importante as pessoas compreenderem que para reduzir a pegada ambiental há uma série de ações simples que podem adotar no seu dia a dia. Para diminuir a quantidade de recursos que utilizamos, devemos tentar aplicar ao máximo a regra dos cinco R’s (Repensar, Recusar, Reduzir, Reutilizar, Reciclar) ou optar por comprar produtos reciclados.

Repensar a nossa relação com aquilo que consumimos, como por exemplo recusar produtos descartáveis ou reduzir o número embalagens que usamos são exemplos do que podemos fazer para reduzir a nossa pegada ambiental. Por outro lado, não podemos ficar indiferentes quando vemos uma beata no chão da rua ou lixo no areal da praia. Todos podemos ser agentes para a mudança de comportamentos, não apenas pelo exemplo das nossas ações, como ajudando a difundir a informação relativa a este tema.

Veja ainda: O que não acaba no lixo acaba no mar

Que outras práticas diárias - aparentemente inócuas - estão a prejudicar os oceanos?

Nos filmes da campanha "O que não acaba no lixo acaba no mar", retratam-se três situações comuns do dia-a-dia, em que, no momento do descarte de um cotonete na sanita, uma beata no chão e um gelado na areia, os personagens de cada história iniciam, de modo involuntário, um caminho que simboliza o trajeto real que estes produtos podem fazer até chagar ao mar. Para além dos exemplos dados na campanha, também o uso de produtos de higiene com microplásticos constituem uma fonte direta de entrada de plástico no oceano através das águas domésticas.

Também outros comportamentos, como o uso exagerado de plástico associado ao consumo de água em garrafas de plástico, à aquisição de produtos com embalagens dentro de embalagens, ao uso de palhinhas e invólucros de plástico para embalar lanches, contribuem para prejudicar o oceano.

Se não invertermos a tendência, existe o risco de termos mais plástico do que peixe nos oceanos?

Sim, estamos a plastificar o mar. Um estudo de 2014 sugere que se todo o plástico que existe no oceano fosse usado para fabricar garrafas de 1,5 litros, e as alinhássemos todas, poderíamos ir e voltar à Lua duas vezes. No Oceano Pacífico, estima-se que o plástico aí existente seja seis vezes superior à vida marinha. Se nada fizermos, em 2050 poderá haver no mar mais plástico do que peixes.

O comportamento do ser humano matará peixes mas também danificará a saúde do próprio ser humano?

O ecossistema marinho está muito mais ameaçado do que se imagina. É urgente compreender que o mar já está desequilibrado. Estima-se que 90% das aves marinhas irão ingerir plástico em alguma altura da sua vida. Hoje, um milhão de aves marinhas e 100 000 mamíferos marinhos morrem, todos os anos, devido à poluição por plástico. Se nada fizermos, o lixo no oceano continuará a matar milhares de animais marinhos todos os anos. E a prazo, poderá eventualmente afetar a nossa saúde.

Os microplásticos, que constituem um risco para a saúde humana, podem ser ingeridos por vários tipos de peixes e outros organismos marinhos, como moluscos, atuns, ostras, salmões e anchovas. Mais ainda, os plásticos no oceano são autênticas esponjas, que absorvem outros poluentes e muitas toxinas, tornando-se autênticos venenos. Por outro lado, a acumulação de lixo nas praias e nas zonas costeiras pode constituir um perigo, pois pode causar ferimentos e outras lesões nos banhistas.

 Três coisas que podemos fazer já para reduzir o lixo marinho?

  1. Não participar em eventos que realizem lançamento de balões – a maioria dos balões acaba no oceano, afetando a vida marinha;
  2. Reduzir o uso de descartáveis, como palhinhas, talheres, copos e pratos;
  3. Recusar os produtos com microplásticos;