A crise em Portugal e na Europa trouxe mudanças, particularmente no que respeita à decisão de ter ou não ter filhos. Mas há outros temas que quisemos abordar na entrevista a Teresa Bombas, médica ginecologista e presidente da Sociedade Portuguesa de Contraceção. Dos métodos contracetivos, às lacunas do Programa de Planeamento Familiar, falou-se ainda dos tabus sobre a pílula do dia seguinte e dos riscos alarmistas à volta da pílula. 

1. Os últimos indicadores apontam para uma diminuição da natalidade em Portugal. A crise económica parece ser uma das causas. De que maneira é que as dificuldades daí decorrentes estão a mudar a vontade dos portugueses em ter filhos? 
Enquanto profissional de saúde e médica obstetra o que posso dizer é que a natalidade tem vindo a descer de uma maneira geral em todos os países da Europa. Em Portugal este decréscimo é mais marcado pois os emigrantes voltaram aos seus países, os jovens emigram e de facto as pessoas têm grandes cortes orçamentais o que torna difícil constituir família. Para os jovens até se torna difícil sair de casa dos pais. Não se trata de mudar a vontade ou as estratégias de vida mas de possibilidade. Efeitos a longo prazo uma população envelhecida.
2. Desde a despenalização do aborto, tem-se assistido de ano para ano a um decréscimo no número de abortos. Por algum motivo? 
As causas são múltiplas mas entre elas está certamente a promoção e acessibilidade ao planeamento Familiar.
3. O tromboembolismo ainda é uma das contraindicações da pílula. Fala-se em 9 casos em casa 10 mil mulheres. Este é, na sua opinião, um dos motivos que afasta as mulheres da pílula?
As mulheres com contraindicação aos estrogénios (doenças da coagulação, HTA não controlada, antecedentes de tromboembolismo, obesas, fumadoras) não devem usar uma pílula combinada, podem usar uma pilula só com progesterona. O risco de tromboembolismo em não utilizadoras, ou seja na população em geral é 4-5/10000, nas utilizadoras é 9-10/10000, na gravidez é 29/10000 e no pós-parto é 300-400/10000. Como se pode verificar o risco na pilula é muito baixo comparativamente ao risco de tromboembolismo durante a gravidez e pós-parto.
4. O preservativo é mesmo o melhor método contracetivo? 
O melhor método contracetivo é o método com que cada utente se sente mais confortável. Para umas será a pilula, para outras o DIU e para outras o preservativo. O preservativo é o único método que protege de uma doença de transmissão sexual.

5. A pílula do dia seguinte ainda é um tabu nacional? 
A pílula de emergência é a ultima oportunidade para prevenir uma gravidez no caso de uma relação sexual não protegida (sem contraceção, falha contracetiva, violação). Deve ser promovida e descomplicados os seus riscos. Todas as mulheres independentemente do estado de saúde podem fazer a pilula de emergência.
6. Considera que a educação sexual proporcionada nas escolas é suficiente? 
Existe educação sexual obrigatória nas escolas em Portugal desde 2009. Desde há muito que existe uma orientação para a educação sexual nas escolas. Não é desejável mas tem melhorado substancialmente, basta verificar os dados publicados no estudo da OMS onde Portugal está representado.
7. Existe desigualdade na distribuição dos métodos contracetivos em Portugal no âmbito do plano nacional. Por que motivo?
Existe alguma desigualdade no acesso aos contracetivos em Portugal e esta desigualdade tem de ser ultrapassada. Somos um único país com a mesma lei e as condições de acessibilidade devem de ser as mesmas. A disponibilidade de contracetivos está dependente das administrações regionais de saúde, daí essa desigualdade. O caso mais flagrante é o do anel vaginal, que não está disponível em todo o país.
Por SAPO Saúde