Os investigadores falavam hoje numa mesa-redonda sobre a “Pré-eliminação da malária na CPLP (Comunidade dos Países de Língua Portuguesa)” do 1.º Congresso Lusófono de Doenças Transmitidas por Vetores, que decorre hoje e na terça-feira no Instituto de Higiene e Medicina Tropical, em Lisboa.

Em Angola, segundo o coordenador do Programa de Controlo das Epidemias, Filomeno Fortes, embora a mortalidade tenha caído para metade, de 10.505 casos em 2009 para 5714 em 2014, continua a haver três milhões de casos por ano, de que resultam seis mil óbitos anuais.

E estes são os casos de que há registo, sublinhou o mesmo responsável, recordando que cerca de 40 por cento dos angolanos não tem acesso ao serviço nacional de saúde e que “todo o país é endémico”, tendo mostrado um mapa entomológico de Angola a indicar que cerca de 20 espécies de mosquitos transmitem a doença e que esta continua a ser a principal causa de morte no país, não havendo para este ano finaciamento do Governo.

Quanto ao cenário no Brasil, é bastante mais animador: De acordo com Paola Marchesini, coordenadora do Programa Nacional de Controlo da Malária brasileiro, “a doença está erradicada na maior parte do país e só existe na região amazónica, segundo dados de 2014.

A especialista frisou que “o diagnóstico é gratuito e rápido e que o tratamento também é gratuito em casos confirmados”, acrescentando que a malária “é uma doença de notificação compulsória” e que “cada caso gera uma notificação que entra no sistema informático”.

Cabo Verde está, disse Júlio Rodrigues, coordenador do Programa Nacional de Luta Contra o Paludismo, “em situação de pré-eliminação da doença, o que significa menos do que um caso por mil habitantes”, após várias situações de quase erradicação da mesma, a que se seguiram epidemias, porque “o país desleixou”.

Neste momento, indicou, “Santiago e Boavista são as únicas duas ilhas com malária em Cabo Verde", registando 26 casos em 2014, e que "a meta é a eliminação até 2020, definida na Política Nacional de Saúde”, gastando anualmente o Governo cerca de meio milhão de euros.

Na Guiné-Bissau, o especialista Paulo Djatá, coordenador do Plano Nacional de Luta contra o Paludismo (PNLP), traçou um retrato mais sombrio da atual situação no país.

“Apesar de o número de mortes devidas a malária se ter reduzido para metade entre 2000 e 2011, a malária é um problema de saúde pública na Guiné-Bissau, onde se registam 91 por cento dos óbitos ligados à doença em todo o mundo”, sublinhou, acrescentando que é a principal causa de internamento e mortalidade, sobretudo das crianças com menos que cinco anos”.

Djatá precisou que, segundo dados de 2011, dos 174.986 casos notificados, 38,9% eram de crianças menores de cinco anos e que, dos 472 óbitos ocorridos, 45% foram de crianças menores de cinco anos”.

Para este estado de coisas, contribuem fatores como “a insuficiência de recursos humanos no PNLP, a fraca comparticipação financeira do Estado e a falta de coordenação das ações dos parceiros no terreno”, entre outros que enumerou.

Em São Tomé e Príncipe, segundo Hamilton Nascimento, coordenador do PNLP, “a incidência da doença passou de 38,4 por cento em 2009 para 9,3 em 2014 e a mortalidade passou de 14,3 por cento para zero casos”.

“No Príncipe, a incidência é baixa; São Tomé tem maior incidência, mas varia de região para região”, indicou, acrescentando que o país se encontra “na fase de pré-eliminação” e que “o plano estratégico para 2012-2016 é ter menos que um caso por mil habitantes”.

Uma preocupação comum a todos estes países de língua portuguesa é a resistência às substâncias usadas para tratar a doença. A esta, acresce ainda, no continente africano, a contrafação de medicamentos, que faz com que o número de vítimas aumente, por ausência de tratamento, e a falsificação dos produtos médicos.