2 de junho de 2014 - 09h05
Vários novos tratamentos contra cancros avançados do pulmão, sangue, tiroide e ovário, resistentes a outras terapias, mostraram resultados positivos, segundo testes clínicos divulgados no sábado e que confirmam os avanços feitos na luta contra a doença.
A Imbruvica (Ibrutinib), dos laboratórios americanos Pharmacyclics e Johnson & Johnson, conseguiu prolongar a vida de pessoas afetadas por leucemia linfoide crónica, que não respondiam à quimioterapia combinada com um anticorpo, o tratamento padrão para este cancro do sangue, o mais comum em adultos.
Este agente estimula a autodestruição de células cancerosas e bloqueia a sua proliferação. A agência que regula medicamentos e alimentos nos Estados Unidos (FDA) aprovou este medicamento no fim de 2013 para tratar linfomas resistentes e, em fevereiro de 2014, para a leucemia.
É a primeira vez que um anticancerígeno ingerido por via oral permite um aumento claro da sobrevivência destes pacientes, reforçaram os pesquisadores, que apresentaram este estudo clínico na conferência anual da American Society of Clinical Oncology (ASCO), o maior colóquio sobre o cancro, reunido este fim de semana em Chicago (Illinois).
"Com o Ibrutinib, cerca de 80% dos pacientes ainda estavam em remissão um ano depois, duas vezes mais do que se pode esperar de uma terapia padrão", comentou John Byrd, professor de medicina na Universidade de Ohio, que fez este estudo com 391 pacientes com idade média de 67 anos.
"Estes dados favorecem o uso deste medicamento como primeiro tratamento para estes doentes", avaliou.
Outros tratamentos permitiram atrasar em um ano e meio o avanço de tipos agressivos de cancro na tiroide.
No tratamento do cancro da tiroide
O Lenvatinib, um agente desenvolvido pelos laboratórios SFJ Pharmaceuticals, dos Estados Unidos, e Eisai, do Japão, também levou à redução do tumor em cerca de dois terços dos doentes.
"Confiamos que, com estes resultados, o Lenvatinib se tornará a primeira opção para tratar este tipo de cancro da tiroide", resistente ao iodo radioativo, eficaz na grande maioria dos casos, disse Martin Schumberger, oncologista da universidade francesa Paris-Sud, que chefiou o teste clínico de fase 3 em 392 pacientes.
Um terceiro teste clínico, também apresentado na conferência da ASCO, esteve relacionado com o Ramucirumab (Cyramza), um antiangiogénico do laboratório americano Eli Lilly que bloqueia a formação de vasos sanguíneos nos tumores.

Aprovado em fevereiro de 2014 pela FDA para o tratamento do cancro agressivo de esôfago, este medicamento permitiu prolongar a vida de pacientes com cancro muito avançado do pulmão, segundo um teste clínico divulgado no sábado.
Este resultado modesto foi considerado, de qualquer forma, significativo pelos oncologistas, por ser "o primeiro tratamento que, em dez anos, permite melhorar a evolução deste cancro com um tratamento alternativo à quimioterapia", explicou Maurice Pérol, diretor do serviço de oncologia do tórax no centro contra o cancro da cidade francesa de Lyon e principal autor deste estudo.
Finalmente, um teste clínico com dois agentes experimentais tomados de forma combinada, o Olaparib e o Cediranib, do laboratório britânico AstraZeneca, permitiu duplicar, a 17,7 meses, a sobrevivência de mulheres vítimas de um cancro agressivo do ovário em relação às pacientes não tratadas com Olaparib. Trata-se do primeiro inibidor da enzima PARP que permite o reparo do DNA das células cancerosas.
O Cediranib, por sua vez, bloqueia a formação de vasos sanguíneos no tumor e o crescimento de células cancerosas.
Nenhuma destas duas moléculas ainda foi aprovada pela FDA.
Dispõe-se atualmente de muitas famílias de moléculas que agem sobre distintos objetivos e que permitem bloquear a proliferação de células cancerosas.
A quimioterapia tradicional, ao contrário, bloqueia unicamente a multiplicação destas células mas tem maiores efeitos colaterais.
"Com o desenvolvimento alcançado pela medicina genómica estes últimos anos, tornou-se possível enfrentar tumores resistentes aos tratamentos padrão", explicou o oncologista Gregory Masters, do Helen Graham Cancer Center de Newark (Delaware, leste dos Estados Unidos).
Por SAPO Saúde com AFP