As ações e ofertas de ajuda valem mais que tentativas falhadas de palavras de esperança. "Quando terminar a quimioterapia, vai estar bem melhor". "Eu tenho um conhecido que teve um cancro muito parecido e viveu mais de 80 anos". "Não se preocupe, tudo vai ficar bem".

São muitas as frases ditas que nem sempre ajudam. São frases comuns usadas por quem interage com alguém com uma doença como o cancro.

Ainda que as intenções sejam as melhores, muitas vezes o que é dito é exatamente o que o paciente não quer - ou não precisa - de ouvir. Pelo menos é isso o que defende Stan Goldberg, professor de comunicação da Universidade Estadual de São Francisco, nos Estados Unidos.

Em declarações à BBC, Goldberg explica que "o paciente não quer que alguém o anime". "Não quer que lhe diga que tudo vai ficar melhor quando, na realidade, as pessoas não têm a menor ideia do qual alcance ou diagnóstico do cancro", observa Goldberg.

Stan Goldberg define-se como "um sobrevivente do cancro" e um amante da flauta de bambu japonesa. Ele é autor do livro "Loving, Supporting, and Caring for the Cancer Patient" e enfrenta um tipo de tumor agressivo na próstata.

O professor salienta que também não ajuda falar da doença de outras pessoas, porque "isso não diz nada de concreto", afirma. Cada caso é um caso.

Stan Goldberg explica que conselhos que começam com "se eu estivesse no seu lugar" também não costumam funcionar já que "é impossível colocar-se no lugar de outra pessoa", sobretudo numa situação de cancro.

Leia também: 17 sintomas de cancro que os portugueses ignoram

Veja aindaEste super laboratório quer descobrir nos genes o calcanhar de aquiles do cancro

Saiba mais“Nenhuma família devia passar por este inferno”. O drama de ter uma filha com cancro

"As pessoas com cancro vivem num mundo completamente diferente de uma pessoa saudável. Percebem as coisas de forma diferente", assegura o professor. Por esta razão, diz ele, é difícil saber o que sente e pensa um paciente. Em vez de julgar ou de tentar animar o outro, é preciso simplesmente aceitar.

Um erro comum, diz Goldberg, é focar em palavras ou na escolha de determinadas palavras e não oferecer ajuda para coisas práticas do dia a dia. Ao oferecer ajuda, é importante ser prático e específico e nem sempre pedir para que a pessoa lhe diga o que preciso é a melhor abordagem.

Goldberg sugere, por exemplo, oferecer para ir com a pessoa ou fazer as compras para ela, para que não fique ainda mais cansada. "Isso é muito mais significativo que qualquer coisa que se possa falar", conclui o especialista.

E quando lhe descrevem um procedimento médico, ficar calado e ouvir é uma boa alternativa. Responder que já leu algo na Internet sobre o tema não acrescenta muito. O importante, esclarece Goldberg, é deixar que o paciente conduza e dite os rumos da conversa.

Embora muitas das recomendações de Goldberg estejam fundamentadas no senso comum, foi a própria história dele que o motivou a investigar a melhor forma de agir com pacientes de cancro.