"Estamos em alerta máximo e a situação é muito complexa. Só em Tete, em média, as unidades sanitárias atendem 70 a 75 pessoas com cólera por dia", disse hoje à Lusa a diretora-adjunta de Saúde Pública, Benigna Matsinhe.

Os dados oficiais divulgados indicam 2.477 casos de cólera registados pelas unidades sanitárias das províncias de Tete, a mais afetada pelo surto, com 1.130 casos e 19 óbitos, Niassa e Nampula, no centro e norte de Moçambique.

Embora a taxa de mortalidade da epidemia seja baixa (1%), segundo Benigna Matsinhe, a situação é preocupante e o total de doentes tende a aumentar nas províncias afetadas e ameaça as vizinhas.

"É uma situação que nos preocupa, o território moçambicano é grande e de livre circulação. Tememos que a epidemia se alastre por todo país. E, nesse momento, seria complexo controlar o surto", alertou Benigna Matsinhe.

Além da época do verão, propícia à ocorrência de doenças, de acordo com a diretora-adjunta de Saúde Pública, a higiene pessoal e coletiva e o deficiente saneamento público são os principais fatores do alastramento da epidemia em Moçambique.

"Nas zonas afetadas, nota-se claramente que as questões da água, da higiene pessoal e coletiva constituem um grande problema. Há locais onde as pessoas ainda praticam fecalismo a céu aberto, o que contribui para o alastramento da doença", afirmou Benigna Matsinhe.

Além de terem sido montadas tendas para assistência dos doentes nas regiões mais afetadas, as autoridades moçambicanas estão a levar a cabo campanhas de sensibilização em todo país, com vista a disseminar formas de combate à epidemia em Moçambique.

O surto de cólera em Moçambique teve como epicentro as províncias do norte e do centro de país, atingidas pelas cheias que fustigam o país desde 12 janeiro, que afetaram mais 177 mil pessoas e causaram mais de 150 mortos.

Tete com vigilância reforçada

As autoridades de saúde de Tete reforçaram a vigilância epidemiológica para conter o surto de cólera que, só nesta província do centro de Moçambique, já provocou 19 mortos e atingiu 1.270 pessoas, após seis anos sem registo da doença.

O surto de cólera afeta sobretudo a cidade de Tete, capital da província com o mesmo nome, e Moatize, cujos centros de tratamento foram reforçados com pessoal médico, além de terem sido ativados os meios de alerta para os distritos que ainda não foram atingidos, disse hoje à Lusa Mulassua Simango, médica-chefe provincial.

O Ministério da Saúde anunciou hoje o alerta máximo para Moçambique devido ao surto de cólera, que já matou 28 pessoas, a maioria em Tete, e atingiu mais de 2.400 nas províncias do centro e do norte do país.

"Estamos em alerta máximo e a situação é muito complexa. Só em Tete, em média, as unidades sanitárias atendem 70 a 75 pessoas com cólera por dia", afirmou à Lusa a diretora-adjunta de Saúde Pública, Benigna Matsinhe.

Mulassua Simango aponta o fraco saneamento nos bairros e mercados locais e a falta de higiene individual e coletiva na cidade de Tete e no município de Moatize como as principais causas que contribuíram para a eclosão deste surto, que afeta sobretudo crianças.

"As famílias não possuem latrinas e têm efetuado a defecação a céu aberto, a chuva escorre as fezes para os rios e a população bebe a mesma água, daí que o risco de contaminação é maior", descreveu Mulassua Simango, acrescentando que as autoridades sanitárias e o município de Tete estão a intensificar medidas de prevenção, para evitar que a cólera se alastre a toda a província.

Uma equipa médica deslocou-se hoje para o distrito de Mutarara, onde duas pessoas perderam a vida e mais de 70 estão internadas com diarreias e vómitos, suspeitando-se de que se trate de novos casos de cólera.

Segundo a médica-chefe, a província tem pessoal clínico e medicamentos suficientes e está também a trabalhar com ativistas de organizações sociais para evitar o descontrolo da epidemia.

A província de Tete não registava casos de cólera há seis anos.

A epidemia teve origem nas províncias do norte e do centro de Moçambique, atingidas pelas cheias, que fustigam o país desde 12 janeiro e afetaram mais de 177 mil pessoas e causaram mais de 150 mortos.