"A resposta nacional ao VIH/sida está numa fase crítica, motivada pela crise financeira, que tem afetado a provisão de recursos para os desafios que se colocam", afirmou a ministra da Saúde, Nazira Abdula, citada hoje no portal do Governo moçambicano.

Apesar das dificuldades, a titular da pasta da Saúde espera que a incidência de novas infeções seja reduzida em 30 por cento nos próximos quatro anos, conforme o previsto no IV Plano Estratégico Nacional de resposta ao VIH/SIDA 2015-2019 (PEN-IV), lançado pelo Governo na quinta-feira e avaliado em 500 milhões de dólares (661 milhões de euros).

Cerca de 1,5 milhões de pessoas vivem com o Vírus de Imunodeficiência Humana (VIH) em Moçambique, mais de metade das quais mulheres jovens, e 45 mil morrem todos os anos de sida em Moçambique, segundo estatísticas oficiais.

Um terço abandona tratamento no primeiro ano

Números revelados a partir de um relatório divulgado em julho pelos Médicos sem Fronteiras, a partir de dados oficiais, indicam que, do total de pessoas infetadas, apenas 640 mil procuram tratamento, mas um terço abandonam-no logo no primeiro ano.

Para Nazira Abdula, as atuais dificuldades levam o Governo a apelar aos parceiros financeiros para "uma continuada coordenação das suas ações e para que as prioridades comumente concordadas e plasmadas na estratégia aprovada pelo Governo sejam materializadas a todos os níveis".

Até 2019, o PEN-IV prevê a redução do índice de mortalidade em 40%, aumentar para 80% o número de beneficiários de antirretrovirais e diminuir o abandono do tratamento ao fim de três anos.

No mesmo período, o plano pretende ainda que 93% de mulheres grávidas infetadas recebam tratamento, prevenindo a transmissão de mãe para filho, aumentar a percentagem de homens circuncidados para 80% e expandir o uso do preservativo para 50% para quem teve mais de um parceiro nos últimos 12 meses.

No início de dezembro, os líderes de três das principais organizações internacionais de combate à sida sugeriram ao Governo de Moçambique políticas urgentes para reduzir novas infeções e evitar o descontrolo da epidemia.

"Acreditamos que há uma completa urgência", disse à Lusa Deborah Birx, coordenadora das Atividades de Combate ao VIH/Sida do Governo dos EUA, no fim de uma visita de dois dias a Moçambique com os diretores-executivos da ONUSIDA, Michel Sidibé, e do Fundo Global para o Combate à Sida, Tuberculose e Malária, Mark Dybul, a primeira que os três dirigentes realizaram juntos a um país.

Moçambique, segundo Birx, "dirige-se para máximos históricos de novas infeções de VIH", associadas a um grande aumento de infeções de tuberculose.

A coordenadora norte-americana indicou que as projeções até 2028 indicam uma clara diferença entre a estimativa de acentuada descida de novas infeções e mortes por VIH em Moçambique, caso haja novas medidas e urgentes, e os cálculos de subida contínua no mesmo período, "sem que se faça algo de diferente".

Em Moçambique, tal como na África subsaariana, o número de jovens aumentou entre 30% e 40%, colocando esta faixa em risco de novas infeções, sobretudo mulheres, o que significa que, se um bebé é salvo à nascença do VIH e contrair o vírus quando fizer 16 anos porque não se fez nada, "é absolutamente trágico".

A alteração de políticas para Moçambique implica as novas orientações da Organização Mundial de Saúde, a partir dos instrumentos da estratégia de resposta rápida 90-90-90, em que, até 2020, 90% pessoas infetadas conhecem o seu estado clínico, 90% estão em tratamento e 90% têm a carga viral suprimida.

Estas medidas visam erradicar a epidemia em 2030 e, traduzidas para Moçambique, implicam, de acordo com as três organizações internacionais, o aumento da cobertura do tratamento, ainda abaixo dos 50%, e redução do número de pessoas que o abandonam.