O ministro da Saúde, Paulo Macedo, foi ontem confrontado em Bragança com as fragilidades que os doentes enfrentam nesta região pelo presidente da Câmara local que classificou algumas como “devastadoras de vidas”.

O autarca social democrata, Jorge Nunes, apontou as estatísticas que revelam que “a taxa de mortalidade no Nordeste Transmontano em doentes de enfarte ou AVC é 58 por cento superior à média nacional e no concelho mais afastado dos hospitais de referência, Freixo de Espada à Cinta, é 2,7 vezes superior”.

As distâncias, a concentração de serviços e a falta de especialidades surgem como causas desta realidade que levou o autarca a perguntar ao ministro: “quanto custa em sacrifício, tempo e dinheiro aos cidadãos e ao sistema público esta insuficiência”?

O autarca discursava na tomada de posse da administração da Unidade Local de Saúde do Nordeste, a ULS Nordeste, presidida por Paulo Macedo.

Jorge Nunes alertou que, ou se instalam as valências necessárias ou se deixa “morrer os cidadãos mais cedo, deixando povo no esquecimento como se não fosse parte do povo português, a não ser para votar, utilidade que os partidos ainda não dispensaram”.

Um doente da região tem de percorrer, pelo menos, 130 quilómetros até Vila Real, ou mais de 200, ao Porto, se for de Bragança.

“É bem evidente que estamos perante uma fragilidade grave e devastadora de vidas”, considerou o autarca, lembrando ainda outras carências como hematologia clínica, dermatologia ou neurocirurgia.

As especialidades mais próximas ficam a mais de 100 ou 200 quilómetros, em Vila Real ou no Porto, e até em casos de urgência as distâncias têm custos para os doentes, pois, como lembrou, as ambulância de emergência médica transportam o doente para o hospital e regressam à base, “ficando o doente sem transporte público e por conta própria apôs a alta médica”.

“Muitos destes cidadãos, já de idade avançada, sem apoio familiar, sem dinheiro, socialmente fragilizados, com pensões de miséria de valor médio de 255 euros, 70 por cento da média do continente, são obrigados a pagar 125 euros a um táxi se o regresso for para Freixo de Espada à Cinta, ou 150 se for durante a noite, ou seja, 60 por cento do seu rendimento mensal”, concretizou.

Jorge Nunes insurgiu-se também contra os cortes no transporte de doentes não urgentes que está a obrigar “muitos cidadãos idosos, sem recursos, a deixar de ir a consultas e tratamentos”.

Por todas estas razões, Nunes frisou que “é imprescindível manter as 24 horas de funcionamento do helicóptero do INEM estacionado em Macedo de Cavaleiros, que pode fazer a diferença entre vida e a morte”.

O ministro da Saúde, Paulo Macedo, defendeu, em declarações aos jornalistas, que serão pior tratados se houver especialidades “em sítios que não têm dimensão nem massa crítica do que em situações que são altamente referenciadas e que não devem existir em todos os hospitais do país”.

Sobre a reivindicação da manutenção do helicóptero de emergência, disse que espera “uma solução rápida” e, no transporte de doentes não urgentes, garantiu que “todas as pessoas que tenham baixos rendimentos e uma prescrição médica” têm direito a transporte gratuito.

Já nos casos dos doentes urgentes, disse apenas que “o INEM é totalmente gratuito”, nada acrescentando em relação ao regresso a casa dos doentes.

23 de fevereiro de 2012

@Lusa