A organização médico-humanitária internacional Médicos Sem Fronteiras (MSF) divulgou a semana passada num relatório que a falta de financiamento para o tratamento do VIH condiciona muitos países a realizarem mudanças significativas no combate do vírus

Estas acções humanitárias têm a necessidade de serem apoiadas consistentemente, mas neste momento, estão a lidar com a oposição dos dois principais financiadores – Inglaterra e Estados Unidos da América – em aceitarem objetivos vitais ao tratamento e cura do VIH, nas vésperas da Cimeira do VIH/SIDA, que terá lugar em Nova Iorque no próximo mês de Junho. Este encontro culmina numa altura em que as provas de que o tratamento do VIH/SIDA pode prevenir novas infeções são cada vez mais evidentes.

“O nosso relatório mostra que existe uma clara mobilização de vários países para dar uma resposta ambiciosa ao VIH/SIDA, que já alteraram as políticas vigentes para colocar as pessoas em tratamento masi cedo e com melhores medicamentos”, afirma Tido Von Schoen-Angerer, médico e diretor-executivo da Campanha de Acesso a Medicamentos Essenciais (CAME). “Mas, por tais restrições de financiamento, alguns deles não são capazes de colocar estas novas políticas em prática, mostrando toda a fragilidade deste progresso”.

O relatório “Um passo à frente: Lições para os próximos dez anos de resposta ao VIH/SIDA” tira uma radiografia actual das respostas dadas a esta epidemia, observando as diretrizes utilizadas em 16 países que, juntos, representam 52 por cento do total de doentes infetados com o HIV. Entre os 16 países, 12 mudaram os seus protocolos para fornecerem tratamento aos doentes num estágio menos avançado da doença, e 14 passaram a oferecer medicamentos melhor tolerados que os usados anteriormente.

Ambas as políticas fazem parte das últimas recomendações da Organização Mundial da Saúde (OMS). Muitos países, como o Malaui e o Zimbabwe, por exemplo, fizeram um plano com base na implementação de protocolos para melhores tratamentos, mas ficaram a meio caminho devido às restrições de financiamento. O que significa que os doentes continuam a receber medicamentos insuficientes ou que só serão tratados depois do enfraquecimento dos seus sistemas imunológicos.

No início de Junho, os governos irão encontrar-se nas Nações Unidas para definirem um programa de resposta ao VIH/SIDA para os próximos dez anos. O Secretário-Geral, Ban Ki-Moon, pediu aos países para colaborarem com o objetivo de tratar, pelo menos, 15 milhões de pessoas até ao ano 2015 – a estimativa indica que poderão atingir os 15 milhões.

Mas, em reuniões fechadas, os Estados Unidos e alguns governos europeus, como é o caso do Reino Unido, negaram comprometer-se com este objetivo. Para a MSF, o compromisso de todos os países envolvidos para atingir estes números é essencial para a organização corresponder eficazmente para impedir o desenvolvimento da epidemia.

“Hoje, dez milhões de pessoas precisam de tratamento urgente”, afirma Von Schoen-Angerer. “Aprendemos muito na última década sobre como levar os cuidados e tratamentos ao maior número de pessoas num curto espaço de tempo. Com as políticas certas, poderemos triplicar o número de pessoas que estão a ser tratadas sem, por isso, triplicar os custos. Mas, se os governos financiadores mais importantes não apoiarem este objetivo, deixam a mensagem clara de que não estão comprometidos a enfrentar esta pandemia”.

Dados científicos recentes suportam a proposta de aumentar a oferta de tratamento mais cedo, uma vez que isso ajuda a diminuir a propagação do vírus, uma vez que diminui precocemente a carga viral no sangue das pessoas. As pessoas a quem foi reduzida uma carga viral atempadamente, ganharam menos 92 por cento de transmissão do vírus.

“Nós sabemos que o tratamento de VIH/SIDA salva vidas, reduz a incidência de doenças e reduz dramaticamente o risco de transmissão do vírus, afirma a Dra. Marcella Tomassi, colaboradora da MSF na Suazilândia (país em que 26 por cento da população  infetada com o vírus VIH/SIDA”. Agora, mais do que nunca, os governos precisam de renovar o seu desejo de lutar contra a epidemia e tratar as pessoas”.

A MSF começou a oferecer tratamento anti-retroviral (ART) a pessoas que vivem com VIH/SIDA em 2000, e hoje trata mais de 170 mil pessoas com acesso ao ART, em 19 países africanos e asiáticos.

19 de abril de 2011

Fonte: ISaúde