31 de outubro de 2013 - 16h00
O governo admite proibir os médicos de usarem anéis, pulseiras, alianças ou gravatas, no âmbito do combate às infeções e resistências aos antibióticos, dada a gravidade e dimensão do problema em Portugal.
Há um conjunto de instrumentos - anéis, pulseiras, alianças - que “sabemos que são potenciais veículos de transmissão”, com os quais “as minhas colegas insistem, muito alindadas, em ir trabalhar”, disse o secretário de Estado e Adjunto da Saúde durante a apresentação de um relatório sobre infeções e resistência aos antimicrobianos.
Segundo Fernando Leal da Costa, médico de formação, os riscos estão ainda associados à “gravata nos cavalheiros [médicos], os estetoscópios que se insiste em transportar por todo o lado, as batas com que se almoça e janta nos refeitórios e com que, a seguir, se veem doentes”.
Questionado sobre a intenção de proibir esta indumentária nos serviços de saúde, Fernando Leal da Costa mostrou-se convicto de que tal não será necessário, mas deixa um aviso: “Não teremos dificuldade em fazê-lo”.
Para o secretário de Estado, devem ser os conselhos de administração a criar medidas e a promover “uma cultura pró-ativa que envolva todos os profissionais, no sentido destes terem instituições limpas”.
E lembrou que os níveis de infeção hospitalar já influenciam nos orçamentos das instituições.
“Isto não se resolve só com a cenoura, também não se resolve só com a chibata. Temos de fazer um equilíbrio, de forma a que a pessoa que está entre a cenoura e a chibata sinta a vontade de fazer melhor”, disse.
Fernando Leal da Costa assumiu a gravidade das infeções e resistência aos antimicrobianos em Portugal, embora reconheça que, em alguns casos, a situação melhorou.
No conjunto de bactérias que constitui particular preocupação em termos de aquisição de resistência a antimicrobianos, “Portugal apresenta uma crescente taxa de resistência do Staphylococcus aureus à meticilina, sendo nesta altura o país europeu com mais elevada taxa”.
De acordo com o relatório do Programa de Prevenção e Controlo de Infeções e de Resistência aos Antimicrobianos, da Direção Geral da Saúde (DGS), Portugal é também um dos países europeus com elevada taxa de resistência do Enterococcus faecium à vancomicina.
Outro dado preocupante que consta do documento refere-se ao aparecimento de Enterobacteriaceae resistentes a carbapenemes, antibióticos de mais largo espetro: em estudos de incidência essa taxa é ainda inferior a um por cento em Portugal.
Os autores do documento alertam para o facto de os antibióticos estarem “em risco de extinção”.
“A crescente taxa de resistência dos microrganismos, associada ao decréscimo da síntese e desenvolvimento de novas classes de antimicrobianos leva a que o antibiótico, menos de cem anos após a descoberta da penicilina e após ter contribuído para um marcado aumento da esperança de vida média, esteja em risco de perda de eficácia”, lê-se no relatório.
Lusa